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Voltando no Tempo - JASC, A OLIMPÍADA CAIPIRA

por Antonio Carlos “Bolinha” Pereira

O esporte, seja ele físico ou intelectual, antes de ser divertimento, competição, saúde, liame social, é uma irrecusável necessidade humana. Os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizados em 1896 na cidade grega de Atenas, resgataram o objetivo de incentivar o maior desenvolvimento possível das aptidões físicas e intelectuais do ser humano.

As Olimpíadas, primeiro gênero de competições esportivas de que se tem conhecimento, foram criadas na Grécia Antiga e aconteciam a cada quatro anos. Durante três dias, período em que as guerras eram suspensas, participavam apenas atletas gregos, disputando corridas a pé e a cavalo, luta livre ou com armas. Os vencedores eram considerados heróis na sua cidade natal e recebiam como prêmio uma coroa de louros.

A cada quatro anos, em um país diferente, uma cidade tem a honra de sediar os Jogos Olímpicos, Competidores e torcedores, durante pouco mais de duas semanas, ajudam a preservar e fortalecer o espírito olímpico, mais que uma competição entre os melhores atletas do mundo viraram confraternização entre os povos e a grande festa do esporte, um dos mais importantes eventos do planeta, emocionando com vitórias, recordes e histórias de superação.

Os anéis olímpicos representam a união dos cinco continentes habitados: Europa (azul), Ásia (amarelo), África (preto), Oceania (verde) e Américas (vermelho). Criados por Pierre de Coubertin em 1913, eles foram escolhidos porque pelo menos uma das cores estava presente nas bandeiras de todas as nações na época. O fundo branco da bandeira simboliza a paz, e os anéis entrelaçados representam a união e a universalidade do movimento olímpico. 

A nossa “Olimpíada Caipira” é conhecida pela sigla JASC, Jogos Abertos de Santa Catarina, e foi inspirada nos Jogos Abertos do Interior de São Paulo. O desportista e empresário brusquense Arthur Schlösser reuniu no Centenário de Brusque, em agosto de 1960, 444 atletas catarinenses representando os municípios de Florianópolis, Blumenau, Concórdia, Corupá, Criciúma, Indaial, Itajaí, Joaçaba, Joinville, Lages, Mafra, Rio do Sul, São Bento do Sul e a anfitriã, Brusque. Consagrado como “Pai dos Jogos Abertos”, Schlösser jogou futebol pelo C. A. Carlos Renaux e na S. E. Bandeirante praticou as modalidades de ginástica, punhobol, tênis, voleibol e basquetebol.

Brusque e Joaçaba marcaram presença em todas as edições dos Jogos Abertos, e dividem conosco esta honra as eternas rivais em quantidade de títulos Blumenau e Joinville, segundo revelou Alexandre Muniz de Queiroz no livro-resgate “25 Anos de JASC - 1960-1985 - Joaçaba Sempre Presente”. E cabe o registro: Dr. Queiroz é também um motivo de orgulho para nós, seus conterrâneos, pois enquanto participou na modalidade de xadrez conquistou muitos troféus e medalhas. E o chamamos conterrâneo com orgulho, pois embora baiano de nascimento ele é cidadão honorário joaçabense.

Joaçaba sediou os Jogos pela primeira vez em outubro de 1967, nas comemorações do cinquentenário. O congresso de abertura estava marcado para as 9 e meia da manhã mas faltou luz, trazendo transtorno principalmente aos bares da cidade, pois os visitantes chegaram com muita sede (e o pessoal da imprensa bebe um bocado...).

Era grande a vontade de bem receber os visitantes, a cidade estava na vitrine e seria necessário mostrar organização. O então prefeito Udilo Antonio Coppi contou com o decidido apoio do governador Ivo Silveira e, apesar das pressões contrárias de terceiros, concluiu em tempo o primeiro ginásio de esportes do Oeste catarinense. Coppi repetia assim o pioneirismo de seu colega Oscar da Nova, que construiu um estádio de futebol considerado o melhor do estado na década de 1950. O Estádio Oscar Rodrigues da Nova e o Ginásio Ivo Silveira serviram de palco para as cerimônias de abertura e as principais modalidades da competição, mas hoje nem mais existem, substituídos por um parque. O Silveirão foi inaugurado no dia da abertura das competições com partidas sucessivas de vôlei, basquete e futebol de salão.

A CCO foi presidida com competência e dedicação pelo Dr. Alexandre Queiroz, que assim pronunciou seu discurso: “Joaçaba, pelo seu Prefeito e Comissão Central Organizadora, jubilosa por poder sediar, de 7 a 14 de outubro, os 8ºs Jogos Abertos de Santa Catarina, a maior festa poliesportiva do Estado, saúda e formula a todos os participantes e coadjuvantes - autoridades constituídas, desportivas, convidados de honra, imprensa escrita e falada, juízes, auxiliares e público – os melhores votos de êxito e feliz estada, para incontida satisfação nossa e crescente glória do esporte amador, jamais esquecido o princípio de que, em competições que tais, O QUE VALE É COMPETIR”.

Para disputar 19 modalidades recebemos 1196 atletas que participaram representando Blumenau (que se sagraria campeã), Água Doce, Brusque, Caçador, Campos Novos, Canoinhas, Capinzal, Catanduvas, Concórdia, Criciúma, Curitibanos, Erval Velho, Herval d’Oeste, Indaial, Jaraguá do Sul, Joinville, Lages, Mafra, Porto União, Rio do Sul, São Bento do Sul, Tangará, Tubarão, Videira e Xanxerê. Joaçaba conquistou o quarto lugar na classificação geral, com 5 medalhas de bronze, 1 de prata e duas de ouro: no bolão masculino treinado por Remo Franzoi e no xadrez, sob o comando de Miguel Russowsky, que contou com a parceria de verdadeiros campeões: Flávio de Carli, Alexandre Muniz de Queiroz e seu filho Enéas Jeremias. A joaçabense Ana Maria Gwozdz, atleta de saltos ornamentais, foi eleita Rainha dos Jasc, e o Baile dos Atletas no Clube Cruzeiro foi abrilhantado por Ney Vianna & The King’s Boys, legítimos representantes da moderna cultura joaçabense.

A CME, Comissão Municipal de Esportes, era composta por ilustres cidadãos joaçabenses, a maioria deles ainda bem jovens: Altair Dassi, Carlos José Pereira, Cid Ney Ferrão, Djalma Ouriques, Dorvalino Fuga, Flávio de Carli, Flavio Luiz Tesser, Francisco Marin, Ivo Trevisan, João Carlos Müller, Nestor Milton Ritter, Oswaldo Batista, Rodolfo Lindner e Rômulo Mattos sob o comando experiente de “Seu” Vadico, Walter Pereira de Mendonça.

Ao contrário dos meus dois irmãos, nunca fui um bom jogador. Raul Fernando, o mais novo, sempre se destacou no tênis de mesa, enquanto o mais velho, Carlos José, ajudou a anfitriã a conquistar o quinto lugar no basquete com seus companheiros Alberto Rezende, Carlos Syperreck, Ceno Schneider, Elmerindo Baretta, Glemar Gonçalves da Rocha, Manoel Antenor de Morais, Odemar Willig, Paulo Veloso, Rodolfo Lindner e Wilmar Antonio Cazella, a maioria atletas da S. E. XV de Novembro, uma verdadeira seleção.

A Fesporte, Fundação Catarinense de Esporte, órgão do Governo de Santa Catarina, organiza e fomenta o evento com diversas modalidades esportivas e a participação de municípios de todo o estado, previamente classificados. Para a secretária executiva da CCO dos Jasc 2015, professora Mirian Dolzan, que trabalhou na organização de cinco das seis edições locais, um dos fatores mais importantes para esse sucesso é o envolvimento da comunidade regional, com a participação de centenas de pessoas ligadas direta e indiretamente na logística do evento, além do legado do evento em ampliações e reformas nas praças esportivas.

O município de Joaçaba é o que mais vezes sediou edições dos JASC: 1967, 1988, 1989, 1998 e nos anos de 2006 e 2015 em conjunto com Herval d’Oeste e Luzerna. As cerimônias de abertura dos JASC aqui sempre foram notáveis e os meios esportivos vibravam com a criatividade da equipe do professor Edinho, Edmar de Oliveira Pinto, que assim como Ruddy José Nodari, um dos pioneiros dos JASC, recebeu a Comenda do Mérito Esportivo.

Mirian afirma: “É sempre gratificante receber os Jasc em nossa cidade. Todos nos empenhamos para acolher bem os visitantes, dando condições de trabalho para dirigentes e atletas, pois acreditamos em todas as coisas boas que o esporte proporciona. Em contrapartida, recebemos amizade e carinho”.

Na semana anterior ao início é realizado em Brusque o acendimento da tocha com o fogo simbólico. A tocha é transportada pelas rodovias catarinenses por jovens atletas em corrida de revezamento a cada quilômetro até a Cidade-Sede, onde acontece o acendimento da Pira Olímpica para a cerimônia de abertura, um símbolo marcante. A comitiva é protegida no trajeto pelas Polícias Militar, Rodoviária Estadual e Federal.

Com os classificados nas etapas microrregionais e regionais, os JASC 2025 acontecem entre os dias 18 e 29 de novembro no município de Chapecó, que se transforma na capital catarinense do esporte, palco para milhares de atletas, dezenas de modalidades em uma cidade que vibra com o esporte.

Criados em 1988, os Joguinhos Abertos de Santa Catarina se consolidaram como um dos principais eventos de rendimento da Fesporte para atletas catarinenses de 15 a 19 anos. A competição tem sido instrumento poderoso para revelar novos valores do esporte e representa a continuidade do sonho.

Afinal, a cada vez que se oferece ao jovem a oportunidade de praticar algum esporte estamos contribuindo para formar uma sociedade mais justa e equilibrada. Mas a nossa “Olimpíada Caipira” corre o risco de desaparecer, pois o que já foi um celeiro de revelação de grandes talentos esportivos virou mercantilismo e, ao invés de incentivar atletas locais, dirigentes contratam atletas “mercenários” visando apenas trazer medalhas o que desvirtua o sentido da competição.

Que o espírito dos velhos tempos volte a inspirar nossas quadras, pistas e ginásios. Que a chama dos JASC — a nossa “Olimpíada Caipira” — siga acesa não apenas na tocha e nas medalhas, mas nos corações de quem acredita no verdadeiro valor do esporte: união, superação, amizade e orgulho de representar sua terra. Que os aplausos ecoem mais pelos gestos do que pelos resultados e que cada nova geração de atletas encontre, no suor e na garra, o mesmo brilho dos pioneiros que fizeram da história do esporte catarinense uma eterna celebração de fé, trabalho e paixão.

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