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O DIA NACIONAL DO CICLISTA

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Preliminarmente, o Dia Nacional do Ciclista é celebrado anualmente em 19 de agosto e representa muito mais do que uma simples data comemorativa no calendário brasileiro. Trata-se de um momento de reflexão sobre a mobilidade urbana, o respeito mútuo no trânsito, a sustentabilidade e, principalmente, a valorização da vida. A data foi oficializada pela Lei nº 13.508, de 22 de novembro de 2017, como uma homenagem a ciclistas de todo o país e, em especial, à memória de Pedro Davison, biólogo brasiliense que perdeu a vida em 2006 após ser atropelado por um motorista embriagado enquanto pedalava no Eixo Sul, em Brasília. Sua morte gerou comoção nacional e despertou debates importantes sobre o direito dos ciclistas ao espaço urbano, levando a mobilizações por mais segurança e políticas públicas voltadas ao transporte cicloviário.

Destarte, ao pensarmos no ciclista, devemos compreender o seu papel dentro do cenário urbano contemporâneo. O ciclismo não é apenas uma atividade esportiva ou de lazer, mas uma alternativa real e eficaz de deslocamento nas cidades, contribuindo diretamente para a redução de congestionamentos, emissão de poluentes e sedentarismo. Conquanto os benefícios amplamente reconhecidos, pedalar no Brasil ainda é um grande desafio. A ausência de infraestrutura adequada, como ciclovias seguras e integradas, sinalização eficiente e campanhas de conscientização constantes, ainda limita a expansão da cultura da bicicleta em diversas regiões do país.

Ademais disso, muitos ciclistas enfrentam diariamente o desrespeito por parte de motoristas, o que se traduz em riscos reais à sua integridade física e emocional.

Entretanto, nesse contexto, o Dia Nacional do Ciclista é também uma oportunidade para chamar atenção para a urgência de políticas públicas consistentes que garantam a segurança dos usuários da bicicleta. Mais do que construir ciclovias, é necessário planejar cidades que respeitem e integrem todos os modais de transporte de forma equilibrada e democrática. O conceito de mobilidade urbana sustentável defende exatamente isso: cidades onde o transporte coletivo de qualidade, a caminhada e a bicicleta sejam priorizados em detrimento do uso excessivo de automóveis. Países como Holanda e Dinamarca são frequentemente citados como referência nesse sentido, tendo desenvolvido ao longo de décadas uma cultura de respeito e valorização do transporte ativo, com benefícios diretos à saúde da população e à qualidade de vida nos centros urbanos.

No Brasil, posto que se verifiquem avanços pontuais, o caminho ainda é longo. Muitas cidades têm implementado ciclovias e promovido eventos voltados ao uso da bicicleta, mas essas ações ainda são isoladas e, muitas vezes, descontinuadas com a troca de gestões municipais. A falta de integração entre diferentes modais e a ausência de uma malha cicloviária contínua dificultam a adesão de novos usuários. Além disso, o próprio ciclista precisa ser visto como um agente do trânsito com direitos e deveres. Nesse sentido, a educação para o trânsito assume papel fundamental, tanto nas escolas quanto nas campanhas de conscientização direcionadas a motoristas, pedestres e ciclistas. A coexistência pacífica e segura nas vias depende da empatia, do cumprimento das leis e da valorização da vida acima de qualquer disputa por espaço.

Outrossim, importae ressaltar que a bicicleta é também um símbolo de inclusão social. Em muitas comunidades, ela é o principal meio de locomoção para o trabalho, escola, lazer e acesso a serviços básicos. Tornar o ciclismo mais seguro e acessível é, portanto, uma medida que dialoga com a justiça social, oferecendo mais autonomia a quem enfrenta diariamente as dificuldades de um transporte público precário ou inexistente. Nesse sentido, investir em políticas cicloviárias é investir em dignidade e cidadania.

Comemorar o Dia Nacional do Ciclista é, antes de tudo, um ato de resistência. É lembrar que a bicicleta é um direito e não um privilégio. É reconhecer que cada vida perdida no trânsito representa não apenas uma tragédia pessoal, mas uma falha coletiva de uma sociedade que ainda não aprendeu a conviver com as diferenças e a compartilhar o espaço público. É um convite à reflexão sobre o modelo de cidade que queremos construir: uma cidade para carros ou uma cidade para pessoas?

Em última análise, impende destacar o papel da sociedade civil, dos coletivos de ciclistas, das ONGs e dos movimentos sociais na luta por cidades mais humanas e cicláveis. São essas organizações que, muitas vezes de forma voluntária e autônoma, promovem bicicletadas, oficinas, debates, campanhas educativas e pressionam o poder público por melhorias concretas. O protagonismo desses grupos tem sido essencial para manter viva a memória de vítimas do trânsito, como Pedro Davison, e transformar o luto em luta por um futuro mais seguro, verde e inclusivo.

Em epítome, o Dia Nacional do Ciclista não deve ser encarado apenas como uma data simbólica, mas como um marco anual para reafirmar compromissos, renovar esforços e valorizar todos aqueles que, ao pedalar, contribuem para cidades mais saudáveis, justas e humanas.

Por final, em cada pedalada, há um gesto de resistência, uma escolha consciente e uma esperança de que, no futuro, todos os modais possam conviver em harmonia, com segurança, respeito e dignidade.


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