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O TEMPO jornal de fato

O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

por Antonio Carlos “Bolinha” Pereira, joaçabense, 75 anos

Há mais de oitenta anos Dorival Caymmi perguntava se você já foi à Bahia e diante da negativa completava: então, vá! Mas agora eu gostaria de mudar o foco e pergunto se você já foi ao Museu da Língua Portuguesa. Fica em São Paulo, e vale a pena passar ali algumas horas.

Há muitas coisas para fazer na capital paulista mas o tempo disponível era curto. Poderíamos ter ido ao Theatro Municipal, lá eu já assisti a um concerto regido pelo Maestro João Carlos Martins há uns anos, então escolhemos visitar e conhecer o Museu da Língua Portuguesa, instalado na Estação da Luz, uma bela construção com projeto inspirado no Big Ben e na Abadia de Westminter, de Londres. É uma instalação diferente da ideia que se tem de museu, algo que para muitos não passa de uma coisa velha, embolorada, mas esse é dinâmico, como teria que ser, pois aborda algo tão vivo e inquieto como é a língua falada ou escrita, conservadora e sempre mutante. Analisamos a escrita vinda através dos séculos com o auxílio luxuoso da tecnologia, de maneira interativa, didática e até divertida, como quando mostra a articulação do aparelho fonador ou propõe que você respire em um longo tubo e “veja” as ondas sonoras provocadas.

Mas eu já volto ao assunto, quero antes lhes contar como essa oportunidade surgiu. Em agosto a minha esposa Marina e eu fomos a São Paulo para a comemoração dos 80 anos de meu irmão Carlos José, que nos hospedou em sua casa. Ele e a esposa Regina, de saudosa memória, se conheceram no Mackenzie e residiam em Darlington, na Inglaterra, aonde nasceu a primogênita Mariana, que foi registrada no Consulado Brasileiro de Liverpool. Atualmente ela reside em Londres com o marido Christian e os filhos do casal, Beatrix e Guillermo.

Depois fomos recepcionados no acolhedor apartamento do Theo e da Priscilla, a filha do aniversariante e, sob o olhar atento da Filomena, a simpática cadelinha Schnauzer dos meus sobrinhos, passamos horas agradáveis com alguns dos antigos colegas de Universidade do meu mano, amizades que ele cultiva desde quando lá chegou e com o tempo se transformaram em extensão da família. Pessoas maravilhosas, como os sogros da Priscilla, Lu e Paulo Leopardi, a jovem Ana Paula Guimarães (amiguinha de infância da Priscilla), mais os casais Isabel e Pedro Leopardi, Nilza e Alfredo Augusto Rodrigues, Sueli e Glicério Funaro, Ivete e Juvenal Rodrigues do Amaral com as filhas Cristina e Juliana, que passaram a ser uma extensão da família do “Mano Véio”. No Domingo pela manhã fomos tomar café na Padaria Aracaju, que o Carlos “adotou” como sua, graças aos deliciosos quitutes ali servidos.

Depois participamos da Santa Missa no Mosteiro de São Bento e ainda achamos um tempinho para conhecer a Igreja da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, uma igreja muito querida e visitada na cidade, com sua arquitetura neorromânica, famosa pela "chuva de rosas" ao final da celebração mensal da Padroeira. Era hora do almoço, a Marina e eu fomos de carona com o aniversariante ao bairro da Mooca, no tradicional Restaurante Don Carlini, de reconhecida fama por suas massas caseiras, para um encontro reservado em família no andar superior do antigo prédio, um casarão dos anos 50 que já foi um curtume. O almoço teve a presença também do nosso irmão Raul Fernando, que veio de Morretes (PR) e como era Dia dos Pais também estavam os filhos do “Mano Novo”, Marcos Vinícius, que veio do Rio de Janeiro pilotando sua moto, e de Curitiba, Luiz Gustavo com o Jota. Após o “banquete”, fomos conhecer o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, que tantas lembranças evoca. Mais conhecido simplesmente como Pacaembu, está localizado na praça Charles Miller, no final da avenida Pacaembu, na zona central da cidade de São Paulo. Por ser final de semana não pude exercitar meu passatempo favorito, que é visitar os sebos em busca de livros antigos e discos de vinil.

Em seu livro “Velhos Tempos... Belos Dias” (Ed. do Autor, 2010) Raul Anastácio Pereira, nosso saudoso progenitor, recorda a trajetória do segundo dos sete filhos, já graduado no Curso Técnico de Contabilidade do Ginásio Marista Frei Rogério: “Em 1968 fui levar o filho Carlos José a São Paulo. Ele sempre me ajudara na tipografia e estava trabalhando na Fundição Joaçaba, da família Lindner, mas queria estudar e escolheu a capital paulista para aprimorar seus conhecimentos. Fomos a São Paulo e o ajudei a procurar emprego e estudos. Ficamos procurando por duas semanas, até que ele conseguiu uma vaga na Empresa Perstorp, uma multinacional sueca. Ficou lá por mais de vinte anos e trabalhou depois em diversas firmas estrangeiras, graças às quais viajou para o exterior, foi conhecer o mundo. Hoje aposentado, Carlos é professor na Universidade de Santos, onde concluiu o mestrado”.

Carlos José possui graduação em Ciências Econômicas (1972) e Administração de Empresas (1975) pela PUC, Pontifícia Universidade Católica de SP; Ciências Contábeis (1977) pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e concluiu Mestrado em Gestão de Negócios pela Universidade Católica de Santos. Atualmente leciona na mesma UniSantos para alunos de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas. Ele sempre foi muito ativo, e mesmo aposentado presta consultoria independente para gestão de negócios nas áreas de administração, finanças, controle e operações, embasado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e de Governança ESG (Ambiental, Social e Governança).

Admirável trajetória para quem há quase 60 anos saiu do interior para a cidade grande... Ah! E no mês seguinte ele veio a Joaçaba, ao volante do seu carro, para celebrar com os demais familiares que aqui residem, em honra ao legado de nossos pais e da expressão “Família Pereira, Família Festeira”. Para alegria geral dos primos, a Priscilla e o Theo também vieram.

Voltemos ao Museu. A Estação da Luz está localizada no Bairro da Luz e foi erguida entre os anos de 1895 e 1901, projetada pelo arquiteto britânico Charles Henry Driver para a São Paulo Railway, empresa sediada em Londres e que era responsável por erguer o primeiro trecho ferroviário do estado de São Paulo, ligando o porto de Santos à cidade de Jundiaí. O edifício abriga ainda o Museu da Língua Portuguesa e obras de arte dentro da própria estação, em seus arredores estão a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes. É também a estação de metrô mais próxima da Rua José Paulino, conhecida por contar com cerca de 400 lojas, boa parte delas dedicadas à venda de roupas femininas.

Erguida junto ao Jardim da Luz, por décadas a sua torre dominou parte da paisagem central paulistana evidenciando o poder do café na trajetória de expansão da cidade. O seu relógio era o principal referencial para acerto dos relógios da cidade. Destruído por um incêndio em 1946, cinco anos depois foi substituído por um relógio Michelini, de fabricação nacional.

Nas últimas décadas o transporte ferroviário entrou em um processo gradual de degradação no Brasil, assim como o bairro, levando a Estação da Luz a igualmente deteriorar-se. Nas décadas de 1990 e 2000 passou por uma série de reformas, uma das quais encabeçada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e seu filho Pedro, com a intenção de adaptá-la a receber o Museu da Língua Portuguesa. Em dezembro de 2015, um outro incêndio de grandes proporções ocorreu na estação, destruindo as instalações desse museu e causando grandes danos ao patrimônio arquitetônico do prédio. Contudo, o acervo não se perdeu, por ser na maior parte virtual e recuperável das cópias de segurança.

O Museu da Língua Portuguesa celebra o idioma português com exposições interativas. A língua portuguesa do Brasil é uma língua viva e está em permanente movimento, ela é a nossa cara, o nosso melhor retrato. Conhecer a origem das palavras traz surpresas inesperadas: a etimologia, ciência que investiga a origem das palavras e as suas transformações, mostra que se pode aproveitar partes de uma palavra em outras, porque elas não são indivisíveis: são formadas por unidades menores.

Estudiosos afirmam existirem cerca de sete mil línguas distintas entre si, cada qual com a sua sonoridade e o seu modo de organizar as palavras em sentenças, e as reuniram em 263 grupos, de acordo com suas semelhanças e afinidades estruturais. Qual seria a origem de toda essa diversidade? Elas teriam surgido a partir de uma única língua ancestral, ou teriam se desenvolvido de forma independente, em diferentes partes do planeta? Há ainda muitos mistérios a desvendar sobre as línguas faladas mundo afora.

O idioma português é um universo que contém cerca de 500 mil palavras – e não para de crescer. Agora mesmo outras podem estar nascendo em algum lugar, seja pelo ingresso de palavras estrangeiras ou pela criação de novos vocábulos. De vez em quando o latim renasce na língua portuguesa, como quando dizemos “et cetera”, ou “etc” que quer dizer “e as coisas restantes”.

E o latim ainda aparece em muitas outras expressões, como a priori, curriculum vitae, ipsis litteris, habeas corpus, status quo, per capita, RIP (“requiescat in pace”, isto é, “descanse em paz”). Afinal, o latim influenciou a origem do idioma quando os soldados romanos entraram em terras lusitanas. A partir dali sofreu transformações e viajou pelo mundo com as grandes navegações, deixando marcar profundas por onde passou.

Em território brasileiro recebeu inúmeras contribuições das línguas indígenas e africanas, entre outras, nas encruzilhadas dos encontros – voluntários ou compulsórios - entre  portugueses, africanos, índios, italianos, espanhóis, japoneses, ingleses, franceses, alemães, chineses, bolivianos, coreanos, judeus, enfim, diversas nacionalidades em diferentes momentos marcaram a nossa formação histórica, social e cultural, resultando no povo e na língua falada no Brasil. Com essas transformações ficou diferente do linguajar lusitano, constituindo a nossa própria realidade verbal e dando unidade ao nosso imenso país e, como uma vasta e coletiva obra aberta, a língua portuguesa afirma, modela e expressa a singularidade brasileira.


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