Inauguração do Novo Templo da Assembleia de Deus em Zortéa-SC |
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Historicamente, a busca por bem-estar físico e mental tem impulsionado deslocamentos humanos desde tempos antigos. Termas romanas, estâncias hidrotermais europeias e retiros espirituais orientais são exemplos clássicos de como o turismo sempre esteve, de alguma forma, relacionado à saúde. Na contemporaneidade, essa relação se torna ainda mais evidente e complexa, à medida que o turismo se transforma não apenas em atividade de lazer, mas também em meio de prevenção, tratamento e reabilitação de doenças, ampliando suas interfaces com o setor da saúde pública e privada.
O chamado “turismo de saúde” ou “turismo médico” ganha corpo como um fenômeno global que movimenta bilhões de dólares e atrai cada vez mais viajantes em busca de tratamentos especializados, cirurgias eletivas, bem-estar emocional ou simplesmente uma pausa regenerativa da rotina.
Destarte, esse movimento está ancorado em múltiplos fatores: a globalização, o aumento da expectativa de vida, a crescente conscientização sobre qualidade de vida, o desenvolvimento das tecnologias médicas e a desigualdade de acesso à saúde em determinadas regiões. Em países com sistemas de saúde sobrecarregados ou caros, como os Estados Unidos, muitos cidadãos optam por realizar procedimentos médicos em destinos estrangeiros, onde encontram preços mais acessíveis e, em muitos casos, qualidade equiparável ou até superior.
Por outro lado, países em desenvolvimento, como a Índia, a Tailândia, o México e o Brasil, passaram a investir em infraestrutura hospitalar e qualificação de mão de obra para se tornarem polos de atração nesse segmento turístico em expansão.
Contudo, o turismo de saúde não se limita ao turismo médico. Ele também envolve práticas integrativas e complementares à medicina convencional, como massagens terapêuticas, banhos termais, terapias ayurvédicas, retiros de yoga e meditação, turismo de bem-estar e experiências de reconexão com a natureza. Destinos como Bali, na Indonésia, ou a Serra da Mantiqueira, no Brasil, se destacam por oferecer experiências que combinam turismo, espiritualidade e práticas de autocuidado.
Nessa perspectiva, a saúde é compreendida não apenas como ausência de doença, mas como um estado de completo bem-estar físico, mental e social — nos moldes da definição proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De outro vértice, a expansão do turismo de saúde reflete também mudanças no comportamento do consumidor. O turista contemporâneo está mais informado, mais exigente e mais preocupado com a própria saúde e sustentabilidade de suas ações. O conceito de “wellness tourism”, ou turismo de bem-estar, cresce aceleradamente, impulsionado por uma sociedade cada vez mais estressada e em busca de equilíbrio emocional.
Dados da Global Wellness Institute indicam que o turismo de bem-estar movimenta mais de US$ 900 bilhões por ano e cresce em ritmo mais acelerado do que o turismo convencional.
Ademais disso, esse tipo de turismo costuma beneficiar pequenas comunidades, já que muitos destinos de bem-estar se localizam em áreas rurais ou preservadas, onde práticas tradicionais de cura e hospitalidade são valorizadas.
No entanto, o turismo de saúde também levanta questões éticas, sociais e ambientais. O turismo médico, por exemplo, pode gerar desigualdade de acesso nos países receptores, onde parte da infraestrutura hospitalar é direcionada a estrangeiros em detrimento da população local. Em alguns casos, a procura internacional por procedimentos específicos pode criar distorções nos sistemas de saúde locais, encarecendo tratamentos ou desviando profissionais para atender a demanda turística.
Ademais disso, há preocupação com a segurança dos pacientes, especialmente em locais onde os sistemas regulatórios são frágeis ou pouco transparentes. A medicalização excessiva de práticas naturais ou espirituais, por sua vez, pode comprometer a autenticidade de saberes tradicionais e promover uma apropriação cultural pouco ética.
Destarte, pensar o turismo e a saúde de forma integrada exige uma abordagem holística, que considere tanto os benefícios econômicos quanto os impactos sociais e culturais. A promoção de políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento sustentável desse tipo de turismo é essencial. Isso inclui regulamentação adequada dos serviços oferecidos, incentivo à capacitação de profissionais, proteção do patrimônio natural e cultural envolvido, e garantia de acesso à saúde para a população local.
A articulação entre os ministérios do Turismo e da Saúde, em países que desejam se consolidar nesse setor, é um passo fundamental para assegurar que o turismo de saúde seja benéfico para todos os envolvidos.
No contexto da pandemia de COVID-19, a relação entre turismo e saúde ganhou novas camadas de complexidade. Por um lado, o setor turístico foi severamente impactado pelas restrições sanitárias e pela suspensão de viagens. Por outro, a valorização da saúde como bem primordial tornou-se ainda mais evidente. Com a reabertura gradual das fronteiras e a retomada do turismo, observou-se uma tendência crescente por destinos mais tranquilos, seguros e que ofereçam experiências regenerativas. O turismo pós-pandêmico aponta para uma demanda por viagens com propósito, em que o bem-estar individual e coletivo esteja no centro das decisões.
O Brasil, com sua vasta biodiversidade, tradições culturais e potencial hospitalar, apresenta-se como um território promissor para o desenvolvimento do turismo de saúde. Cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba já possuem hospitais reconhecidos internacionalmente, aptos a receber pacientes estrangeiros.
Entrementes, regiões como Chapada dos Veadeiros, Alto Paraíso, o Vale do Capão e as serras catarinenses atraem turistas em busca de retiros espirituais, terapias holísticas e contato com a natureza. Investir na promoção integrada desses dois polos — o hospitalar e o do bem-estar — pode ser estratégico para posicionar o Brasil como destino competitivo no cenário global.
Entretanto, para que esse potencial se concretize, é necessário planejamento, governança e responsabilidade social. É preciso garantir que os serviços oferecidos atendam padrões internacionais de qualidade e segurança, ao mesmo tempo em que respeitem a cultura local e beneficiem as comunidades anfitriãs. O diálogo entre profissionais da saúde, do turismo, das ciências sociais e ambientais é crucial para formular práticas inovadoras e sustentáveis.
A par disso, é imprescindível que o turista seja orientado de maneira ética e transparente, com informações claras sobre os riscos e benefícios das terapias procuradas.
Em epítome, a interseção entre turismo e saúde é, portanto, um campo fértil e desafiador. De um lado, representa oportunidade de diversificação econômica, geração de empregos e valorização de saberes tradicionais. De outro, exige cautela para não se tornar mais uma forma de exploração de territórios e mercantilização da saúde.
Por final, caminhar rumo a um turismo verdadeiramente saudável é, antes de tudo, uma escolha ética, que envolve o compromisso com o bem-estar integral — das pessoas, das comunidades e do planeta.
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