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O TEMPO jornal de fato

Vontade, motivação e interesse

Prof. Evandro Ricardo Guindani Universidade Federal do Pampa - Unipampa

É muito comum ouvirmos algumas expressões tais como: “Fulano não se esforça, não tem vontade pra nada”. “Por que não faz um curso, não se especializa?” “Cicrano não se motiva pra nada, não quer ser alguém na vida”... Ou ainda: “Hoje as pessoas tem muitas oportunidades, mas o que falta é vontade e interesse...”

Quem faz essas afirmações, não conhece a complexidade do contexto que envolve a vontade, motivação e interesse. A vontade não nasce apenas dentro do indivíduo, não é algo que depende unicamente de um pensamento ou atitude individual. A criança ou jovem só terá vontade de fazer algo se ele visualizar possibilidade de realização e principalmente apoio para tal.

No meu caso, desde criança fui motivado a buscar meus objetivos, e principalmente tive todas as condições favoráveis. Meus pais sempre acreditaram no meu potencial, me estimulavam, emitiam palavras de motivação. Isso tudo vai formando o terreno da vontade, da iniciativa. A vontade nao surge do zero.

Um exemplo: Uma criança pretende participar de uma corrida, mas fica insegura, e seus pais a motivam, dizem que ela é capaz, que ela pode vencer, basta se esforçar, basta lutar... Essas palavras dos pais constituem o terreno onde nasce a planta da vontade e motivação. Caso os pais emitam palavras de desmotivação, a criança pode desistir de ter vontade de participar da corrida.

Quando eu fui professor na periferia de São Paulo me admirava que muitos adolescentes pobres não manifestavam nenhum interesse em fazer um curso superior ou almejar uma profissão de reconhecimento social, eles pretendiam ser traficantes e bandidos. Por que? Porque no seu contexto social, a posse de arma era sinônimo de reconhecimento e poder. Esse é outro fator que determina o direcionamento da vontade e motivação, os referenciais de mundo que a criança recebe onde vive.

É fácil para quem está fora do contexto fazer julgamentos, tais como: “Eles não querem nada com nada”... “Eles nao querem trabalhar, estudar, querem vida fácil, roubar, são vagabundos...” Quem afirma isso, precisa estudar sociologia, filosofia e psicologia para poder compreender de forma mais profunda a realidade. Outra possibilidade é vivenciar o contexto.

Meu primeiro emprego foi de “Educador de rua”, atuando nas ruas de São Paulo fazendo contato com crianças dependentes do tráfico, drogas e da criminalidade, para tentar encaminhá-las de volta às suas casas ou entidades sociais. Atuando cinco anos neste trabalho compreendi o contexto e o imaginário dessas crianças, o terreno onde as mesmas cultivavam suas motivações e seus interesses. Era um abismo de diferença entre o contexto deles e o meu, no interior de Santa Catarina, numa pequena localidade tranquila, onde minha rotina era escola, igreja e campinho de futebol nos potreiros dos tios e avós... Resumindo, cultivei vontade de estudar e ser padre. E as crianças que viviam nas ruas e favelas de São Paulo?

Então meus queridos, nunca julguem alguém, mas sim, tente entender o contexto de onde ele veio, e lembre-se que a vontade, interesse ou motivação são plantas que não nascem do nada, precisam de um terreno fértil, ou seja, de um meio social e familiar estimulante com referências de futuro...


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