Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Em primeiro lugar, São Francisco de Assis permanece, no curso das centúrias, na galeria das figuras mais marcantes da espiritualidade cristã e da história da humanidade. Nascido em Assis, na Itália, por volta de 1181, como Giovanni di Pietro di Bernardoni, Francisco viveu uma juventude comum para alguém de sua condição social. Filho de um rico comerciante de tecidos, desfrutava dos prazeres mundanos e sonhava com glórias militares. No entanto, sua trajetória foi transformada por uma experiência espiritual profunda que o levou a renunciar a todos os bens materiais e a se dedicar integralmente a uma vida de pobreza, humildade e amor ao próximo.

Destarte, o que torna São Francisco inesquecível não é apenas sua escolha radical pela pobreza, mas o modo como essa decisão se desdobrou em uma vida marcada pelo exemplo vivo do Evangelho. Em uma época de grande desigualdade social, corrupção e ostentação por parte da Igreja, sua postura desafiava as estruturas estabelecidas e apontava para uma fé mais autêntica e despojada. Francisco não apenas pregava aos homens: pregava à natureza, aos animais, ao vento e ao fogo, reconhecendo em toda a criação o reflexo do amor divino. Sua famosa saudação, “Paz e Bem”, resumia seu espírito pacífico e reconciliador.

Outrossim, a escolha de viver entre os pobres, cuidar dos leprosos e mendigar por alimento foi uma forma de se identificar plenamente com o Cristo pobre e crucificado. Francisco não desejava apenas reformar a Igreja como instituição, mas reencantar a fé cristã com simplicidade e sinceridade. Ao reconstruir a igrejinha de São Damião, por exemplo, atendeu ao chamado que, segundo relatos, ouviu de Cristo: “Francisco, reconstrói a minha Igreja”. A partir desse gesto simbólico, espalhou-se um movimento que tocou profundamente a sociedade de seu tempo e que, até hoje, inspira milhões de pessoas no mundo.

De outro vértice, outro aspecto inesquecível de São Francisco é sua profunda ligação com a natureza. Considerado o patrono da ecologia, foi um dos primeiros a expressar uma espiritualidade cósmica, vendo no sol, na lua, nos animais e nas plantas verdadeiros irmãos e irmãs. O “Cântico das Criaturas”, também conhecido como “Cântico do Irmão Sol”, é um hino à fraternidade universal e à gratidão pela vida. Em sua visão, o ser humano não é superior, mas parte integrante da criação divina. Tal pensamento, em pleno século XIII, revela uma sensibilidade e uma sabedoria impressionantes, que dialogam com os desafios contemporâneos de preservação ambiental e sustentabilidade.

A fundação da Ordem dos Frades Menores, mais tarde conhecida como franciscanos, foi o meio pelo qual São Francisco deu continuidade à sua missão. Seus seguidores, inspirados em seu exemplo, espalharam-se por diversos países, levando a mensagem de humildade, caridade e fraternidade.

Posto que  ele mesmo haja relutado em criar uma estrutura formal, desejando uma vida em comunhão e sem hierarquias rígidas, a ordem cresceu rapidamente, mostrando a força e a ressonância de sua proposta de vida.

Mesmo os que não compartilham da fé cristã reconhecem em São Francisco um modelo de humanidade rara. Sua figura ultrapassa fronteiras religiosas e culturais, tocando corações pela coerência entre discurso e prática, pela doçura com que enfrentava o sofrimento e pela esperança que irradiava. Não à toa, é frequentemente lembrado em momentos de crise como símbolo de reconciliação, de paz e de cuidado com os marginalizados e com a Terra.

Por conseguinte, o Papa Francisco, ao escolher esse nome em 2013, sinalizou o desejo de uma Igreja mais pobre, mais próxima dos excluídos e mais comprometida com a justiça social e a proteção ambiental — valores que São Francisco encarnou com autenticidade. A escolha não foi apenas simbólica, mas um chamado à Igreja e ao mundo para retomar o espírito franciscano de simplicidade, compaixão e reverência pela vida.

Em epítome, ao recordar São Francisco de Assis, não se trata apenas de reviver a história de um santo medieval. Trata-se de reconhecer a atualidade de sua mensagem em um mundo marcado pelo consumismo, pela violência e pelo individualismo. Seu legado permanece como luz e desafio: viver com menos, amar mais, cuidar da Terra e dos outros como irmãos e irmãs, e encontrar na simplicidade o verdadeiro caminho da felicidade.

Por final, São Francisco é inesquecível porque continua a nos interpelar, convidando-nos a transformar o mundo não por força ou poder, mas pelo exemplo do amor e da humildade.

O TEMPO jornal de fato desde 1989: 

https://chat.whatsapp.com/IvRRsFveZDiH1BQ948VMV2

https://www.facebook.com/otempojornaldefato?mibextid=ZbWKwL

https://www.instagram.com/invites/contact/?igsh=4t75lswzyr1l&utm_content=6mbjwys

https://youtube.com/@otempojornaldefato?si=JNKTM-SRIqBPMg8w