Evandro Guindani
Professor de Filosofia da Universidade Federal do Pampa – Unipampa – Bagé-RS
O fanatismo político ou religioso é um fenômeno que afasta a pessoa da razão. Há uma absorção das informações pela dimensão emocional que não tem uma lógica, apenas sentimento. E o sentimento vai ao encontro do que a pessoa gosta e não necessariamente do que é verdade. Isso faz com que a informação ative dois tipos de reações: amor ou ódio, raiva ou alegria, felicidade ou frustração, dor ou prazer...
As crenças, construídas e alimentadas desde a infância, são as responsáveis por selecionar e categorizar as informações dentro dos sentimentos de raiva, ódio, alegria, prazer ou amor. Por exemplo, se eu fui educado e criado numa família católica fundamentalista, quando eu ouço as palavras saravá e macumba, minhas crenças vão encaminhar essas palavras para a dimensão emocional. A dimensão emocional não tem muita lógica. Geralmente um católico tradicional e conservador vai dizer que essas duas palavras (saravá e macumba) são coisas ruins e do demônio.
A dimensão racional, lógica científica vai nos dizer que macumba significa um instrumento musical, que Saravá significa dar boas-vindas, ou seja, significados maravilhosos, profundos, que são totalmente distorcidos pelas crenças errôneas alimentadas no fanatismo religioso.
As crenças e os sentimentos compõem o mesmo papel e se retroalimentam no nosso cérebro. Juntos, eles condicionam os neurônios responsáveis pelo raciocínio lógico. As emoções (sentimentos + crenças) conseguem paralisar a nossa capacidade de pensar e refletir, ponderar, avaliar, criticar e questionar...
Por isso não adianta você querer questionar pessoas que foram cooptadas por ideias de lideranças fundamentalistas. Essas pessoas se comportam como fiéis em igrejas. Dentro da lógica das religiões, a fé é mais importante do que o conhecimento racional, por isso, não adianta você querer mostrar a realidade para alguém que foi absorvido por ideias fundamentalistas. Ela sempre vai dizer que você está errado e possuído pelo mal, pelo demônio ou também pelo comunismo ou ideias esquerdistas. A forma como ela vai te ouvir e julgar, depende das crenças que ela alimenta a partir do meio onde viveu.
No período da pandemia e até hoje, pessoas criticam as vacinas com base em teorias fundamentadas em concepções sem lógica e elementos comprobatórios. Citam estudos e opiniões de “especialistas” que não se apoiam em pesquisas metodologicamente confiáveis. Pessoas assistem a vídeos, compartilham e defendem emotivamente, com veemência suas crenças, porém sem nenhuma validade científica.
Não deixe seu cérebro ser cooptado pelas suas crenças. Deixe as crenças no lugar delas!
Deixe seu comentário