Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Em preliminar, no curso das décadas de 1960 e 1970, um subgênero do cinema tomou de assalto as telas do mundo com seu estilo peculiar, personagens icônicos e uma trilha sonora inconfundível: o chamado faroeste spaghetti. Produzido majoritariamente por diretores italianos, com locações na Espanha e influências tanto do western clássico americano quanto do cinema europeu, esse estilo marcou época, desafiou convenções e criou uma legião de fãs que até hoje sente saudade de sua atmosfera única.
Inicialmente, o termo "spaghetti western" foi usado de forma pejorativa, referindo-se aos filmes de faroeste de baixo orçamento produzidos na Itália. No entanto, o que começou como uma alternativa econômica ao faroeste hollywoodiano, logo se transformou em uma expressão autoral. Diretores como Sergio Leone elevaram o gênero a um novo patamar, inserindo camadas de ambiguidade moral, crítica social e uma estética mais suja, seca e brutal. Ao contrário dos cowboys heroicos e honrados do western clássico, os protagonistas do spaghetti eram anti-heróis: homens de passado obscuro, silenciosos, guiados por interesses pessoais mais do que por princípios.
Destarte, a trilogia dos dólares, com Clint Eastwood no papel do "Homem Sem Nome", é talvez o maior símbolo desse movimento. Composta por "Por um Punhado de Dólares" (1964), "Por uns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens em Conflito" (1966), a série não só redefiniu o faroeste como também ajudou a consagrar a carreira de Eastwood e do compositor Ennio Morricone. A música, aliás, foi parte essencial do charme desses filmes. As trilhas sonoras assinadas por Morricone tornaram-se tão emblemáticas quanto os duelos ao pôr do sol e os olhares penetrantes dos pistoleiros.
Ademais da estética e da música, o faroeste spaghetti destacava-se por sua crítica implícita à violência e à hipocrisia das instituições. Em muitos desses filmes, xerifes eram corruptos, padres estavam longe de serem santos e a lei era um conceito relativo. Essa visão mais cínica e realista do Velho Oeste dialogava com o espírito de contestação da época, especialmente na Europa pós-guerra.
Todavia, com o passar do tempo, o gênero perdeu força. Nos anos 1980, os westerns em geral já não eram tão populares, e o spaghetti parecia uma relíquia do passado. Ainda assim, sua influência permaneceu viva. Diretores como Quentin Tarantino, Robert Rodriguez e até os irmãos Coen beberam dessa fonte, prestando homenagens explícitas em suas obras. Filmes como "Django Livre", "Kill Bill" e "Onde os Fracos Não Têm Vez" trazem claras referências aos clássicos do spaghetti.
Destarte, a saudade do faroeste spaghetti não é apenas nostalgia por um tipo de filme. É também o reconhecimento de uma estética ousada, de uma narrativa que ousou reinventar um gênero já saturado, e de um espírito artístico que conseguiu fazer muito com pouco. Em tempos de efeitos especiais grandiosos e narrativas repetitivas, lembrar do far-west spaghetti é relembrar uma época em que o silêncio de um olhar valia mais que mil palavras e um sopro de gaita podia anunciar a morte.
Em epítome, presentemente, quiçá não existam tantos cowboys silenciosos vagando por desertos espanhóis, mas a trilha assobiada de Morricone ainda ecoa na memória de quem viveu – ou descobriu depois – aquele mundo seco, poético e cruel.
Por final, um brinde, então, aos pistoleiros de rosto sujo, às cidades empoeiradas e à saudade de um faroeste que falava italiano, mas atirava em qualquer língua.
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