Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Em primeiro plano o desenvolvimento econômico, fenômeno dinâmico e complexo, tem sido objeto de diversas interpretações ao longo da história do pensamento econômico. Dentre os autores que mais contribuíram para a compreensão dessa dinâmica está o economista austro-americano Joseph Alois Schumpeter (1883–1950). Sua visão inovadora rompe com a ideia de crescimento econômico como simples ampliação do capital ou do trabalho, introduzindo a figura central do empreendedor e o conceito de destruição criadora como motores fundamentais da transformação econômica.
No entanto, diferentemente dos clássicos como Smith, Ricardo ou mesmo l Marx, para os quais o crescimento econômico decorria de fatores como acumulação de capital, expansão da força de trabalho ou aumento da produtividade, Schumpeter via o desenvolvimento como resultado de mudanças qualitativas na estrutura produtiva. Em sua obra mais conhecida, Teoria do Desenvolvimento Econômico (1911), ele argumenta que o desenvolvimento não é um processo contínuo e automático, mas sim algo que ocorre em saltos, impulsionado por inovações.
Destarte, essas inovações, por sua vez, não se limitam à invenção tecnológica. Para Schumpeter, elas incluem cinco tipos fundamentais: (1) introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de bem; (2) introdução de um novo método de produção; (3) abertura de um novo mercado; (4) conquista de uma nova fonte de matéria-prima ou de bens intermediários; e (5) criação de uma nova organização em qualquer setor. Em todas essas situações, quem as promove é o empreendedor, figura central em sua teoria.
Todavia, o empreendedor não é o capitalista que simplesmente aplica recursos com vistas ao lucro dentro da ordem vigente, mas o agente que rompe com o equilíbrio, que perturba o sistema ao introduzir novas combinações produtivas. Esse papel disruptivo é essencial para o desenvolvimento econômico, pois ele gera mudanças que se propagam por toda a economia, criando ciclos de prosperidade e crise. Assim, ao invés de um processo linear, o desenvolvimento assume a forma de ciclos econômicos, nos quais fases de crescimento são seguidas por períodos de ajuste, muitas vezes dolorosos, mas necessários à renovação do sistema.
O conceito de "destruição criadora" sintetiza essa lógica. Segundo Schumpeter, o capitalismo está em constante mutação, destruindo estruturas antigas para dar lugar a novas. A falência de empresas incapazes de acompanhar o ritmo da inovação não é um desvio ou uma falha do sistema, mas sim parte intrínseca do seu funcionamento. A destruição criadora é, portanto, o mecanismo pelo qual o capitalismo se reinventa, ao mesmo tempo em que gera progresso técnico e crescimento de longo prazo.
Contudo, Schumpeter não era um entusiasta cego do capitalismo. Em sua obra posterior, Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942), ele levanta a hipótese de que o próprio sucesso do capitalismo pode gerar as condições para seu declínio. A racionalização dos processos produtivos, a burocratização das empresas e a crescente concentração de mercado, segundo ele, podem reduzir o espaço para o empreendedor inovador. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de uma sociedade de bem-estar e a ascensão de uma intelectualidade crítica ao capitalismo tenderiam a corroer seu suporte social e ideológico.
Essa ambivalência da análise importa para compreender os desafios atuais do desenvolvimento econômico. Em um mundo em que a inovação tecnológica é constante, mas em que os frutos desse progresso nem sempre são amplamente distribuídos, a tensão entre destruição e criação continua presente. Setores inteiros desaparecem com a automação, enquanto outros emergem impulsionados pela inteligência artificial, pelas energias renováveis ou pela economia digital. A figura do empreendedor permanece relevante, mas em muitos casos aparece subordinada a grandes corporações que dominam a tecnologia e os mercados globais.
De outro vértice, o legado de Schumpeter, portanto, ultrapassa as fronteiras da teoria econômica. Sua abordagem interdisciplinar, dialogando com a sociologia, a ciência política e a história, permite compreender o desenvolvimento como um fenômeno essencialmente social e institucional. O empreendedor é, antes de tudo, um agente inserido em um contexto cultural, jurídico e político que pode tanto estimular quanto sufocar sua ação inovadora.
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, a leitura de Schumpeter oferece lente útil para refletir sobre os entraves ao desenvolvimento. A ausência de um ambiente institucional propício à inovação, as dificuldades de acesso ao crédito, a instabilidade regulatória e a baixa qualidade da educação tecnológica são obstáculos que limitam a ação do empreendedor. Por outro lado, políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e inovação, aliadas ao fomento de ecossistemas empreendedores, podem criar as condições necessárias para uma trajetória de crescimento sustentado.
Em epítome, a visão de Schumpeter sobre o desenvolvimento econômico permanece atual e provocadora. Ela nos lembra que o progresso não é dado, mas construído a partir de rupturas e da coragem de inovar.
Por final, em tempos de transição tecnológica e crise ambiental, a lição Schumpeter é clara: não haverá desenvolvimento sem mudança, e não haverá mudança sem inovação.
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