Câmara de Capinzal homenageia O TEMPO pelos 36 anos de história e serviço à informação |
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Primeiramente, na Galeria de Arte Ernesto Meyer Filho, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, onde a história política do estado respira silenciosamente entre mármores e painéis, uma nova presença se impõe com vigor: a de Antonieta de Barros, primeira deputada negra do Brasil, professora, jornalista e símbolo da luta por justiça racial e educação.
A exposição “De Quantas Formas Antonieta é Lembrada?”, aberta em julho de 2025, celebra os 124 anos de nascimento dessa catarinense que atravessou a invisibilidade com palavras, ideias e coragem. Mais que uma mostra artística, a exposição propõe um percurso emocional, documental e simbólico por entre as formas possíveis de preservar sua memória — memória que transcende o retrato institucional para se multiplicar em expressões coletivas, urbanas, artísticas e políticas.
Ao entrar na galeria, o visitante é imediatamente convidado a mergulhar em um tempo não tão distante, mas muitas vezes silenciado. A primeira forma de lembrança vem pelos documentos e registros históricos. Fotografias restauradas, manuscritos, recortes de jornais, páginas do livro Farrapos de Ideias — que Antonieta publicou sob o pseudônimo “Maria da Ilha” — estão dispostos como testemunhos de uma vida marcada por resistência.
Entre os objetos expostos, destaca-se o projeto de lei de sua autoria que instituiu o Dia do Professor em Santa Catarina, aprovado em 1948. Ao lado desse legado legislativo, medalhas e homenagens póstumas conferem à figura de Antonieta o devido reconhecimento institucional. Mas mais do que o símbolo oficial, a exposição devolve à sociedade o rosto da mulher negra que ousou ocupar o parlamento e reivindicar igualdade em um tempo em que sua presença era quase uma afronta à ordem vigente.
Em um segundo eixo, a arte assume o protagonismo como linguagem de celebração. A curadoria, coordenada pela biógrafa Jerusa Romão, apresenta retratos e releituras artísticas produzidos por diferentes mãos e olhares.
Há pinturas em aquarela, colagens digitais, xilogravuras, desenhos em nanquim, esculturas em ferro e instalações visuais que compõem um mosaico visual da personalidade multifacetada de Antonieta. Cada obra revela uma nuance: ora a educadora atenta ao futuro, ora a parlamentar desafiadora, ora a mulher silenciosamente revolucionária.
A instalação sonora da artista Liane Ventura, que mistura vozes, frases da autora e trechos de discursos em áudio, contribui para um ambiente imersivo que emociona e convoca o visitante à escuta. Não é uma exposição silenciosa: é viva, pulsante, e feita para provocar a memória coletiva e as lacunas da história.
No entanto, quiçá a lembrança mais potente de Antonieta seja aquela que transcende o espaço da galeria. Fora das paredes da Alesc, sua imagem se perpetua em ações de continuidade histórica e cultural. A Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros (AMAB), por exemplo, atua em diversas frentes de luta social inspiradas em seu legado: educação popular, enfrentamento ao racismo, empoderamento feminino e memória afrodescendente.
Programas como o PAB – Programa Antonieta de Barros de Estágio para Jovens de Baixa Renda – reforçam essa missão, oferecendo oportunidades a estudantes em situação de vulnerabilidade social, especialmente negros e negras. Além disso, sua história é contada em documentários, livros infanto-juvenis, séries de TV e até mesmo em samba-enredo, como o da escola Consulado, de Florianópolis, que em 2020 levou seu nome à avenida. Murais com sua imagem estampam paredes do centro da capital, ressignificando o espaço urbano como território de memória viva.
“De quantas formas Antonieta é lembrada?”, pergunta o título da mostra. A resposta não está apenas no acervo exposto, mas no modo como sua memória se desdobra em múltiplas linguagens e esferas. Ela é lembrada pela história legislativa que ajudou a construir, pela pedagogia que defendia como arma de transformação social, pelas palavras que ousou escrever em tempos de silêncio imposto às mulheres negras.
lembrada na arte que a representa, no ativismo que a homenageia, nas políticas públicas que ecoam seu nome. É lembrada nas salas de aula que hoje acolhem estudantes negros como protagonistas, nos palcos e murais que a projetam como símbolo, nas iniciativas que recusam o apagamento.
Em epítome, em cada um desses gestos, Antonieta permanece, tal como ela mesma redigiu: “O saber liberta, e por isso é temido”.
Por final, a exposição, ao celebrar essa trajetória, não só honra sua história, mas também reafirma que memória é ato de resistência — e lembrar Antonieta é, sobretudo, continuar lutando para que nenhuma história como a dela se perca.
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