Prof. Evandro Ricardo Guindani Universidade Federal do Pampa - Unipampa

O grande poeta e teólogo Rubem Alves escreveu em um de seus textos chamado “Sobre deuses e caquis”, a seguinte frase: “E me veio esta idéia insólita de que Deus é o nome que damos a esta ausência que habita o corpo…”

O que podemos entender dessa frase? Várias interpretações são possíveis, porém quero aqui refletir sobre a ideia de “deus” como ausência, como inexplicável... Sim “Deus” é algo racionalmente inexplicável, e por isso se relaciona apenas com nossa dimensão emocional. Caso você queira explicar racionalmente, nao vai conseguir, a menos que você seja fundamentalista e tente ilusioriamente transformar uma crença em uma verdade racional.

E agora quero falar sobre as coisas que acontecem ao nosso redor e até o momento são racionalmente inexplicáveis e ficam na esfera do mistério, do indizível. É comum ouvirmos pessoas afirmarem que determinadas pessoas foram curadas por Deus. Em que sentido afirmam isso? Sempre que porventura, os médicos não conseguem explicar determinados processos de melhora ou cura que ocorrem com a pessoa doente. É nesse contexto, pelo fato de haver um desconhecimento, uma ausência de explicação daquilo que acontece no corpo, que as pessoas facilmente atribuem isso a algo divino, ou a efeitos de orações e da fé.

Existe até uma passagem bíblica em que pessoas com crise epilética eram vistas como portadoras do demônio. Algum líder religioso se aproximava, fazia alguma oração e a pessoa melhorava. Com isso concluiam que o demônio tinha sido expulso. Na época não havia explicação científica para aquele fato, posteriormente a ciência médica descobriu que se tratava de uma crise epilética. Não era demônio. Diante do inexplicável as pessoas facilmente atribuíam a causa a algo divino.

E assim acontece atualmente. As pessoas possuem um enfermo na família, alguem vai lá, coloca um amuleto divino embaixo do travesseiro, faz uma corrente de oração, uma promessa e de repente a pessoa é curada. Como comprovar que aquela cura é consequência das práticas religiosas direcionadas para aquela pessoa? Não há nenhuma prova. O que pode ocorrer é que neste momento, a ciência médica não consegue explicar, e isso não pode ser automaticamente remetido a um milagre divino. Apenas aguardem que dentro de alguns anos isso poderá ser explicado.

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