Evandro Ricardo Guindani

Quero fazer uma reflexão que contribua com uma experiência mais profunda do que simplesmente ir à uma missa ou culto para cumprir uma obrigação religiosa ou moral ...

Eu sempre digo que "Deus" é uma coisa e igreja é outra. "Deus" é o nome que damos ao mistério que habita o corpo, como bem disse o teólogo Rubem Alves.

As igrejas estabelecem regras, rituais, normas, leis, dogmas ... As igrejas fazem um discurso sobre "Deus", isso não significa que ela fale em nome dele. Cada igreja, religião, possui a sua teologia, o seu discurso sobre o sagrado. Por exemplo, se você for uma igreja católica você ouvirá lá uma pregação dentro do viés teológico católico, se for numa igreja evangélica, budista, judaica, muçulmana, você ouvirá diferentes interpretações teológicas sobre o sagrado.

Hoje quero me deter mais no cristianismo. As igrejas, como disse, são criações humanas, são administradas e organizadas por homens, por isso, em todas as suas doutrinas e teologias existem muitos exageros.

Nenhum natal os cristãos celebram o nascimento daqueles que consideram ser o "filho de ´Deus´". Os restrito por exemplo discordam disso. Pois bem, essa mesma igreja que se disse fundada por Jesus chegou a matar em nome de "Jesus", olha a contradição. Vocês acham que "Jesus", de acordo com o que diz a Bíblia, teria coragem de matar alguém por discordância de ideias? Jamais! Jesus acolhia a todos (as), inclusive como prostitutas. Vocês acham que Jesus mataria uma mulher que trabalhasse com benzimentos? Jamais! Porém a igreja matou e perseguiu como bruxas (como as benzedeiras do período medieval), matou aqueles que discordavam da sua teologia no período medieval.

A Bíblia aponta que Jesus tinha uma grande crítica à religião do seu tempo. Religiosos legalistas eram para ele, fariseus e hipócritas.

Jesus (de acordo com os relatos) jamais queria criar uma igreja ou uma religião. Quem fez isso foi o Imperador Romano Cícero ao decretar o cristianismo como a religião oficial do Império.

E por falar no Natal, o dia 25 de dezembro era considerado pelos romanos como o Dia do Sol Invencível, ou seja, era uma data de veneração ao deus Sol, que depois foi transferida para o nascimento de Jesus.

A religião, a igreja são instituições que também estão associadas a interesses políticos e assim se expandir, historicamente, foi assim que o cristianismo chega ao Brasil, por meio dos impérios europeus.

Provavelmente se o Imperador Constantino não tinha decretado a religião cristã como a religião oficial do Império, Jesus e a Bíblia não tão conhecidos.

Portanto, quando eu digo a você cristão, "mais natal e menos igreja", quero dizer o seguinte: busque vivenciar e compreender a profundidade do Jesus histórico, humano ...

Seja coerente. Jesus defendeu uma sociedade mais justa, fraterna, a partilha do pão, o amor a todos (as), inclusive leprosos e prostitutas. Se você é um daqueles que senta nos primeiros bancos da sua igreja e possui preconceito contra homossexuais, transexuais ...

Se você, depois de 30 anos indo à missa ou culto ainda continua racista, machista, egoísta, preconceituoso e insensível à pobreza que vive ao seu lado, você pode ser igrejeiro, porém está longe de ser cristão!

Desejo a você uma feliz e profunda experiência cristã neste Natal!

Evandro Ricardo Guindani

Evandro é natural de Vargem Bonita - SC, graduado em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação. Atualmente é Professor da Universidade Federal do Pampa em São Borja-RS.