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Analisar os dados da Covid

  • - Mario Eugenio Saturno

Artigo

Analisar os dados da Covid-19 é muito mais complicado que parece e difícil de entender. Isso porque as pessoas têm um entendimento parco ou errado de Estatística. Minha primeira experiência com essa ciência foi na prática aos dez anos, em 1972, em Catanduva. Minha família aderiu ao candidato a prefeito Warley Agudo Romão. Ao iniciar a apuração, liguei o rádio, peguei papel e caneta e comecei a anotar o resultado por urna e, depois de anotar umas dez urnas, descobri que todas apresentavam resultados semelhantes. Meu candidato perdeu, mas eu aprendi o efeito da amostra.

Já no colegial, aprendíamos a fazer o cálculo de probabilidades. Fazer o cálculo até que não tem dificuldade, a complicação está em entender em qual situação usar uma equação ou outra. Quando estudamos Estatística então, o cérebro chega ao limite.

Já tive oportunidade de analisar os dados da doença Covid-19 em artigos anteriores, apontei que a primeira dificuldade é a coleta de dados dos casos e mesmo das mortes e descobri que a análise tem que ser a média de sete dias, e a que termina na sexta-feira mostrou-se mais estável e confiável.

Usar somente o número de mortes por cem mil habitantes ou por milhão para comparar países, estados ou cidades, não é correto. Basta olhar isto na lista de 5596 cidades listadas pelo Ministério da Saúde e verificar as piores cidades, Lago dos Rodrigues (MA) tem taxa de 700,0 mortes por cem mil habitantes, com apenas 62 mortes na cidade que tem 8873 habitantes; Pimenteiras do Oeste (RO), com taxa de 698,3 e 15 mortes na cidade com 2169 habitantes; Parisi (SP), com 691,6, 15 mortes e 2161 habitantes. Somente a trigésima cidade é conhecida nacionalmente, Cuiabá.

Analisar pelo total de casos é altamente dependente da eficiência do local fazer testes. Se ordenarmos por esta taxa, observaremos taxas de letalidade muito alta, irreais certamente. Alguém acredita que a letalidade de alguma cidade pode ser de 26,7% como de Boa Vista do Garupi ou de 26,3% de São Luiz do Paraitinga? Claro que não.

Outro erro comum é olhar somente o número de mortos e intuir que quem tenha mais mortes está em pior situação, ou seja, isso não demonstra situação pior, como se observa nas Capitais de São Paulo, com 28.347 mortes, e Rio de Janeiro, 24.714 mortes, e ainda tendo em vista que as mortes começaram na mesma semana nas duas cidades, mas ao comparar as populações, vê-se que a situação da cidade maravilhosa é muito pior, 366 mortes por cem mil habitantes contra 230. A terceira cidade que mais morreu cidadãos foi Manaus, com 8.829 mortes, cerca de um terço, mas todos conhecemos como foi a situação (398 mortes por cem mil hab.).

Não precisa pensar muito para concluir que não se pode considerar cidades pequenas ou com poucas mortes, não tem representatividade estatística, algumas estarão aparentemente melhor ou pior, independente de cloroquinas. É preciso ter um número considerável de mortes ou de população para que seja representativo. É preciso considerar também a demografia da cidade (jovens, idosos), mobilidade, aeroportos internacionais etc.


Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.


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