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O TEMPO jornal de fato

Ninguém mais quer trabalhar?

Prof. Evandro Ricardo Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa

No supermercado ouço a conversa de dois senhores, homens brancos bem vestidos, falando pra todos escutarem que hoje em dia ninguém mais quer trabalhar, que não se acha mais pessoas pra fazer faxina em casa e nem para fazer roçadas em suas fazendas. Afirmavam que esse atual governo fica dando bolsa família e o povo se acomodou.

Recordo que logo no iniício do Programa Bolsa Família ouvi de um amigo do nordeste que lá havia uma revolta dos ricos porque os pobres não estavam mais se sujeitando a trabalhar recebendo 5,00 por dia. Lembrando que na época, o real era quase equivalente ao dólar. Sim, o Bolsa família possibilitou que os pobres deixassem de ser escravos!

A elite brasileira ainda vive no século dezesseis, querem ter escravos à sua disposição, querem mão-de-obra barata, trabalhador feliz ganhando pouco, que não conheça sindicato, que preferencialmente frequente uma igreja que o ensine a aceitar a sua “cruz” quietinho e sem reclamar. Esse é o trabalhador dos sonhos da elite.

No ano de 2021 ouvi de uma mulher que foi empregada doméstica de uma família muito rica na cidade e que a patroa queria que ela lavasse toda a roupa da família na mão, inclusive do patrão que vinha da fazenda com a bombacha suja de lama e estrume de cavalo. Sim, isso é verdade, e é recente. A patroa dizia que a máquina de lavar seria apenas para pano de chão e lençois, pois estragava as roupas.  Alem disso exigia que a empregada lavasse semanalmente os carros da familia.

Outro relato ouvi agora em setembro de 2024, uma senhora me relatou que trabalhou mais de cinco anos em uma casa como empregada doméstica, ganhando o salário mínimo. Ficava até mais tarde durante vários dias do mês, também sábado e domingo quando precisava e nunca ganhou uma hora extra. Alem disso, precisava dar banho em cachorros grandes, limpar manualmente tapetes onde os animais de estimação faziam suas necessidades, alem disso, cortar a grama do jardim. Certo dia essa senhora pediu mil reais emprestados para o dentista. Os patrões disseram que não tinham. Isso mesmo, depois de mais de cinco anos recebendo o serviço dessa senhora, sem pagar uma hora extra sequer de muitos dias de trabalhos aos sábados e domingos.

Essa é a elite de nosso país, que ainda vive nos anos de 1600 e 1700. Ela quer escravos!

 

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