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A experiência religiosa e o respeito ao diferente

  • - Evandro Ricardo Guindani



A experiência religiosa é aquela experiência que nos coloca a caminho do nosso interior, ao encontro de nosso ser e de nossa dimensão mais profunda do sentido da vida. E aprendemos desde criança que essa experiência diz respeito à nossa dimensão espiritual.
Rubem Alves vai nos dizer que "Deus" é o nome que damos ao mistério que habita o corpo e que sobre ele não podemos nada afirmar, definir, apenas sentir.
Portanto fazer experiência religiosa é sentir o sagrado, o divino dentro de mim e não dizer quem, o que, de que forma é ou não é aquilo que chamamos de "Deus"... Ou dizer o que é certo ou errado, o que "Deus" quer ou não quer...
Leonardo Boff vai afirmar que existem dois tipos de experiência religiosa, uma falsa que te afasta do outro, e uma verdadeira que te aproxima do outro diferente.
Estamos assim diante de três categorias: experiência religiosa, experiência do sentido da vida, e abertura ou fechamento ao outro.
Eu poderia parar por aqui e deixar você refletir sobre isso, mas vou relatar agora uma experiência pessoal.
Durante o tempo em que estive no seminário (1990 a 1997) participei de diversos retiros, momentos de meditação profunda.
Fiz um retiro de 30 dias onde tive experiências maravilhosas e humanamente profundas. Resumindo, essa experiência me fez compreender que aquilo que todos chamavam de "Deus" era simplesmente AMOR.
Ao vivenciar aquela experiência eu senti vontade de perdoar, de dizer para as pessoas que eu as amava, senti uma compreensão e um respeito muito profundo às diferentes religiões principalmente ao candomblé, umbanda, budismo, hinduísmo...
Essa experiência, de sentir que "Deus" era simplesmente Amor me motivou a ir ao encontro do outro de forma mais intensa. E em 1997 iniciei minha vivência em movimentos sem-teto na cidade de São Paulo, participei de ocupações de prédios públicos com mais de 100 famílias pobres. Passava meus finais de semana dentro de cortiços e favelas.
Paralelo a isso comecei a me interessar por outras religiões como o hinduísmo e budismo por exemplo. E ao ler relatos místicos de budistas fui encontrar relatos de experiências idênticas às minhas.
Em 1999 li um livro onde o autor relatava ter vivenciado a mesma experiência que eu tinha vivenciado. Porém com um detalhe, essa pessoa teve as mesmas sensações que eu tive, mas fora da religião, ele era ateu, descrente de qualquer divindade...  
Em síntese, não importa onde ou como você faça sua experiência religiosa, que pode ser pela via da religião, dentro ou fora de uma igreja, por meio da música, da poesia, da arte, do cultivo das plantas... O que importa é que essa sua experiência religiosa te leve ao encontro do outro, do diferente, te leve a compreender e amar e eliminar seus preconceitos...
Caso contrário, como diz Leonardo Boff, sua experiência religiosa é falsa...
Se você é daqueles que coloca em primeiro lugar sua igreja e a Bíblia ao invés do respeito e amor ao outro, cuidado! Você pode estar longe de uma verdadeira experiência religiosa edificante e humanizadora...
O mundo precisa de pessoas que façam experiências religiosas humanizadoras e não apenas de crentes frequentadores de cultos e missas...
Abraços!

Evandro Ricardo Guindani
Evandro é natural de Vargem Bonita - SC, graduado em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação. Atualmente é Professor da Universidade Federal do Pampa em São Borja-RS

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