Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Primeiramente, o Eurasianismo se configura em corrente geopolítica e ideológica que propõe uma visão singular sobre as relações entre os países da região que compreendem a Eurásia, particularmente a Rússia e as nações vizinhas, incluindo os países da Ásia Central, o Cáucaso, e o Leste Europeu. Essa perspectiva destaca a importância estratégica e cultural da região e defende uma integração mais profunda entre as nações eurasiáticas, contrastando com as dinâmicas ocidentais e promovendo uma identidade própria, muitas vezes antagônica ao globalismo ocidental.
Destarte, o Eurasianismo surgiu no início do século XX, formulado principalmente por intelectuais russos, como Nikolai Trubetskoy, Pyotr Savitsky e George Vernadsky, que viam a Rússia como um ponto de intersecção entre a Europa e a Ásia. Essa ideia nasceu em um contexto histórico de grandes mudanças para a Rússia, especialmente após a Revolução Russa de 1917, e como uma resposta ao crescente ocidentalismo e aos desafios impostos pela modernidade.
De outro vértice, a visão eurasiática rejeitava a ideia de que a Rússia deveria se limitar a um modelo de desenvolvimento estritamente europeu. Ao invés disso, ela propunha a construção de uma civilização própria, que combinaria elementos culturais, espirituais e sociais tanto da tradição europeia quanto da asiática. Assim, a Rússia seria considerada como um elo entre o Oriente e o Ocidente, criando uma terceira via de desenvolvimento. Os eurasiáticos acreditavam que, ao manter essa posição geopolítica única, a Rússia poderia preservar sua identidade e encontrar um caminho alternativo para sua modernização, sem ser dominada pelas potências ocidentais.
No século XXI, o Eurasianismo voltou a ganhar destaque, especialmente com o advento do governo de Vladimir Putin na Rússia. A ideia de uma "União Eurasiática", que propõe uma união política e econômica entre os países da antiga União Soviética, como Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia, é uma clara manifestação dessa filosofia geopolítica.
Ademais, a União Econômica da Eurásia, formada em 2015, é um exemplo prático dessa integração proposta pelo Eurasianismo. O projeto visa criar um mercado comum, com um sistema de comércio livre e uma coordenação política mais estreita, voltada para a preservação das soberanias nacionais, mas dentro de um espírito de cooperação regional.
Por conseguinte, o Eurasianismo contemporâneo também se manifesta na busca de uma alternativa ao modelo internacional liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que tem sido visto por muitos, especialmente na Rússia e em outras partes da Eurásia, como um sistema global que impõe normas e valores ocidentais. Nesse contexto, o Eurasianismo sugere uma abordagem mais multipolar, onde diferentes centros de poder podem coexistir, ao invés de um sistema unipolar dominado por uma única superpotência.
A par de sua dimensão política e econômica, o Eurasianismo também tem uma base cultural e filosófica significativa. A ideia de uma civilização eurasiática não se limita apenas à integração política, mas se propõe como um espaço cultural comum, no qual as tradições, as religiões e as práticas sociais da Ásia e da Europa possam se encontrar e se fortalecer. O Eurasianismo resgata valores como o misticismo oriental, a espiritualidade russa ortodoxa e o conceito de "poder suave", que enfatiza a importância das raízes culturais e históricas na construção de uma identidade nacional e regional.
Os pensadores eurasiáticos também criticam a uniformização cultural promovida pelo globalismo ocidental e advogam por uma valorização das culturas locais e regionais, em oposição à homogeneização das sociedades sob a lógica do mercado global. A preservação da diversidade cultural e religiosa dentro da região eurasiática, ao mesmo tempo em que se constrói uma identidade compartilhada, é um dos pilares desse pensamento.
Conquanto a sua popularidade crescente, o Eurasianismo adversa diversos reptos e antagonismo. Para muitos, a proposta de integração política e econômica da Eurásia não passa de uma tentativa de restaurar a influência soviética e de ressuscitar o imperialismo russo sobre os países da região. A ideia de um projeto de união eclesiástica, política e econômica para a Eurásia não é vista como um modelo de desenvolvimento democrático, mas como um esforço para estabelecer uma esfera de influência autoritária e centralizada.
Ademais disso, o Eurasianismo é frequentemente criticado por seu autoritarismo implícito e pela falta de uma verdadeira democracia em muitos dos países que fazem parte dessa visão. O foco na unidade cultural e política sob a liderança da Rússia também é visto como uma tentativa de enfraquecer a autonomia e a soberania dos países da região. Para os críticos, o Eurasianismo pode se tornar uma nova forma de imperialismo, substituindo a velha dominação soviética por uma nova ordem dominada por Moscovo.
Em última análise, o Eurasianismo, como uma ideologia geopolítica e cultural, oferece uma visão alternativa ao modelo de integração global ocidental. Ele propõe uma reinterpretação da posição da Rússia e das nações da Eurásia no cenário mundial, buscando um equilíbrio entre as tradições culturais locais e uma integração econômica e política.
Todavia, a execução de tais ideias continua a ser um campo de intensos debates e desafios, especialmente considerando as tensões geopolíticas e a diversidade de perspectivas entre os países envolvidos. Independentemente de sua viabilidade como modelo geopolítico, o Eurasianismo continua a ser uma expressão poderosa de resistência ao unipolar e persecução de mundo multipolar, mais plural e diversificado.
O TEMPO jornal de fato desde 1989:
https://chat.whatsapp.com/IvRRsFveZDiH1BQ948VMV2
https://www.facebook.com/otempojornaldefato?mibextid=ZbWKwL
https://www.instagram.com/invites/contact/?igsh=4t75lswzyr1l&utm_content=6mbjwys
https://youtube.com/@otempojornaldefato?si=JNKTM-SRIqBPMg8w
Deixe seu comentário