Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
O desenvolvimento rural é uma temática estratégica para a superação das desigualdades sociais e econômicas persistentes no Brasil e em outros países com forte presença da agricultura em suas estruturas produtivas. Longe de se restringir à produção agrícola, o conceito de desenvolvimento rural abarca um conjunto de políticas, ações e transformações voltadas para a melhoria da qualidade de vida das populações que vivem no meio rural. Isso inclui a diversificação da economia, o acesso a serviços públicos essenciais, a valorização da cultura local e a promoção da sustentabilidade ambiental.
Historicamente, o meio rural foi tratado de forma secundária nas políticas de desenvolvimento, sendo comumente reduzido à função de fornecedor de matéria-prima para os centros urbanos. Essa visão limitada contribuiu para a marginalização de milhares de pequenos produtores, comunidades tradicionais, indígenas e agricultores familiares, que enfrentam grandes dificuldades de acesso à terra, crédito, infraestrutura e assistência técnica. No entanto, nas últimas décadas, uma nova concepção de ruralidade tem ganhado espaço, reconhecendo que o campo é um espaço multifuncional, habitado por sujeitos sociais ativos, portadores de direitos e saberes próprios.
Nesse novo paradigma, o desenvolvimento rural é compreendido como um processo integrado, que deve considerar as especificidades territoriais, culturais e ambientais de cada região. As políticas públicas desempenham papel central nesse contexto, seja por meio de programas de fortalecimento da agricultura familiar, como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), seja por ações voltadas à regularização fundiária, à educação no campo, à promoção da agroecologia e da inclusão digital.
A criação de mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), também tem sido uma estratégia eficaz para assegurar renda aos produtores e fomentar circuitos curtos de comercialização.
A questão ambiental, por sua vez, é indissociável do debate sobre o desenvolvimento rural. O avanço do desmatamento, o uso intensivo de agrotóxicos e a concentração fundiária estão entre os principais entraves à sustentabilidade no campo. A agroecologia surge como uma alternativa promissora, ao propor modelos produtivos baseados na biodiversidade, nos conhecimentos tradicionais e na conservação dos recursos naturais. Além disso, práticas agroecológicas contribuem para o empoderamento de mulheres e jovens rurais, estimulando sua permanência no campo e a dinamização da economia local.
Outro aspecto fundamental do desenvolvimento rural é o fortalecimento da organização social e da participação popular. Associações, cooperativas, sindicatos e movimentos sociais do campo desempenham papel decisivo na construção de propostas, na reivindicação de políticas públicas e na defesa dos direitos das comunidades rurais.
A experiência acumulada por esses atores tem demonstrado que a construção de um rural mais justo e sustentável exige processos democráticos, planejamento participativo e o reconhecimento da diversidade de formas de vida existentes no interior do país.
Entretanto, o avanço do agronegócio em larga escala, voltado à exportação e baseado em monoculturas e tecnologia intensiva, continua sendo um dos principais obstáculos à efetivação de um modelo de desenvolvimento rural inclusivo. Apesar de sua importância econômica, esse modelo frequentemente promove a concentração de terras, a expulsão de comunidades tradicionais e impactos ambientais severos. Por isso, é urgente a construção de alternativas que articulem produtividade com justiça social e conservação ambiental.
Em epítome, o desenvolvimento rural deve ser entendido como um processo multidimensional, que envolve não apenas o aumento da produção agrícola, mas sobretudo a melhoria das condições de vida e a ampliação dos direitos das populações do campo. Para isso, faz-se mister Estado presente, políticas públicas bem estruturadas e o fortalecimento das iniciativas locais.
Por final, a construção de um campo vivo, sustentável e justo depende da valorização de seus sujeitos e da construção de uma nova relação entre sociedade, natureza e economia. É nesse horizonte que o desenvolvimento rural se apresenta não apenas como uma meta técnica, mas como um projeto político, ético e civilizatório.
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