Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Preliminarmente, o cenário contemporâneo, marcado pela globalização, por fluxos interconectados e pela interdependência entre os Estados e atores não estatais, exige cada vez mais a atuação de profissionais especializados na compreensão, análise e gestão das complexas relações internacionais. Nesse contexto, destaca-se o internacionalista, profissional formado em Relações Internacionais, cuja atuação tem se tornado estratégica tanto no setor público quanto no privado, refletindo a crescente necessidade de compreender e intervir nos processos globais com competência técnica, visão crítica e sensibilidade multicultural.
Outrossim, o Curso de Graduação em Relações Internacionais, oferecido em diversas instituições de ensino superior ao redor do mundo, tem como objetivo formar profissionais aptos a analisar fenômenos políticos, econômicos, sociais e culturais que ultrapassam as fronteiras nacionais. A formação do internacionalista combina conhecimentos de ciência política, economia, direito internacional, história, geografia política, além de línguas estrangeiras e habilidades de negociação e diplomacia. Trata-se, portanto, de uma formação ampla e multidisciplinar, voltada para a compreensão das dinâmicas do sistema internacional e suas implicações locais, regionais e globais.
O internacionalista é capacitado para atuar em diversas frentes. No setor público, pode trabalhar em ministérios das Relações Exteriores, organismos multilaterais, consulados, embaixadas e instituições ligadas à cooperação internacional e à promoção de políticas públicas com impacto transnacional. Nesse ambiente, sua principal função é representar os interesses do país no exterior, participar de negociações diplomáticas, monitorar acordos internacionais, acompanhar debates em fóruns multilaterais e formular estratégias de inserção internacional do Estado.
Já no setor privado, sua presença é cada vez mais valorizada em empresas multinacionais, consultorias, ONGs, câmaras de comércio, instituições financeiras e agências de desenvolvimento. Nestes espaços, o internacionalista atua na análise de riscos políticos, na promoção de negócios internacionais, no desenvolvimento de estratégias de expansão para novos mercados, no cumprimento de normas e tratados internacionais e na gestão de projetos com impacto global. A atuação em organismos internacionais, como ONU, OMC, OEA, FMI, Banco Mundial, entre outros, também representa uma possibilidade atraente para o profissional de Relações Internacionais.
Ademais, afigura-se crescente o envolvimento do internacionalista em temas transversais e emergentes da agenda global, como mudanças climáticas, segurança cibernética, governança da internet, direitos humanos, ajuda humanitária, desenvolvimento sustentável, migrações forçadas, segurança alimentar e saúde internacional. A complexidade dessas agendas exige a formação de quadros com capacidade de dialogar com diferentes áreas do conhecimento, propor soluções inovadoras e contribuir para a governança global de maneira ética, técnica e responsável.
Entretanto, no contexto brasileiro, a profissão de internacionalista ganhou reconhecimento significativo a partir dos anos 1990, com a consolidação de cursos específicos na área e a intensificação da inserção do Brasil nos fluxos globais. A emergência do Brasil como ator relevante no Sul Global, a ampliação de parcerias Sul-Sul, os debates sobre integração regional no âmbito do MERCOSUL e da UNASUL, e a participação ativa do país em fóruns internacionais contribuíram para consolidar a demanda por profissionais de Relações Internacionais.
Entrementes, a internalização de pautas globais no território nacional, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reforça a importância desse profissional também na esfera doméstica, em articulação com governos locais, organizações da sociedade civil e empresas.
Malgrado o crescimento da área, o mercado de trabalho para o internacionalista ainda é desafiador, sobretudo pela ausência de uma regulamentação formal da profissão no Brasil. Essa situação implica em ambiguidades quanto ao reconhecimento do profissional e à delimitação de suas atribuições legais. No entanto, esse obstáculo tem sido parcialmente superado pela mobilização de redes profissionais e acadêmicas, como a Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) e os diversos núcleos de pesquisa e extensão universitários, que promovem o intercâmbio de experiências, o fortalecimento da identidade profissional e a valorização da área.
Outro ponto importante a ser considerado jaz no papel do internacionalista na mediação cultural. Em um mundo caracterizado por fluxos migratórios intensos, pelo choque de valores e por conflitos de identidade, o profissional de Relações Internacionais pode atuar como um facilitador do diálogo entre culturas, promovendo a tolerância, o respeito à diversidade e a construção de pontes entre diferentes sociedades. Essa capacidade de compreender o "outro", de analisar contextos culturais e históricos específicos e de propor soluções negociadas é uma das marcas distintivas da formação internacionalista.
O domínio de línguas estrangeiras, particularmente o inglês, o espanhol, o francês, o mandarim e o árabe, é considerado essencial para a atuação do internacionalista, pois permite o acesso a fontes primárias, a comunicação eficaz com interlocutores internacionais e a participação ativa em fóruns multilíngües.
Ademais disso, habilidades como empatia, pensamento crítico, capacidade analítica, resiliência, liderança e adaptabilidade cultural são altamente valorizadas nesse campo profissional.
Destarte, com o avanço das tecnologias da informação e da comunicação, o ambiente de atuação do internacionalista se torna ainda mais complexo e dinâmico. A diplomacia digital, a diplomacia pública e o uso estratégico das redes sociais na construção da imagem internacional dos Estados são novos campos de atuação que requerem atualização constante e domínio de ferramentas digitais. Do mesmo modo, a análise de dados aplicados à política internacional e o uso de inteligência artificial na previsão de cenários geopolíticos têm ganhado espaço como recursos estratégicos para a atuação do profissional.
Em última análise, faz-se mister destacar que o internacionalista é, antes de tudo, um agente de transformação social, capaz de pensar soluções para os grandes dilemas da humanidade a partir de uma perspectiva ética, inclusiva e global. Sua atuação transcende os limites da geografia política para tocar questões fundamentais da convivência humana no século XXI. Em tempos de tensões internacionais, desafios ambientais, crises humanitárias e disputas por hegemonia, o papel do internacionalista se torna ainda mais relevante. Ele é chamado não apenas a interpretar o mundo, mas a transformá-lo, construindo pontes em tempos de muros e promovendo o diálogo em tempos de conflito.
Destarte, a profissão de internacionalista representa não apenas uma carreira promissora, mas um compromisso com o bem comum global. Cabe a esse profissional pensar além das fronteiras, agir com responsabilidade diante da diversidade de interesses e contribuir para um mundo mais justo, cooperativo e sustentável.
Em epítome, em meio à complexidade do século XXI, o internacionalista desponta como uma peça-chave na arquitetura de um novo paradigma de relações internacionais, pautado pelo multilateralismo, pela solidariedade entre os povos e pela busca incessante de soluções pacíficas para os conflitos da humanidade.
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