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Rolando Boldrin em Capinzal Perdigão 72 anos

Rolando Boldrin em Capinzal na comemoração Perdigão 72 anos

Se a vida pudesse ser convertida em causo, ele seria autor e artista da sua própria história. Contaria, com o mesmo sotaque caipira que o consagrou, peripécias de uma trajetória dedicada à divulgação da rica cultura brasileira, embalada, principalmente, pela legítima música de raiz. Rolando Boldrin, 70 anos, se faz de espelho do Brasil para mostrar, aos quatro cantos, talentos quase sempre esquecidos pela grande mídia, mas que encontram vez na sua voz. ?Eu canto o Brasil. Canto música de qualidade e que mostra o quão rica é a nossa cultura?, define ele, que desde o início do mês vem realizando shows em Santa Catarina, em comemoração aos 72 anos das empresas Perdigão. O próximo será promovido pela U.I.C.A ? Unidade Industrial Capinzal Aves, dia 2 de setembro, sábado, no Clube Floresta, no município coirmão: Ouro, com início às 19:30 horas.

Num Brasil dominado pelas duplas sertanejas formadas por uma espécie de pop stars tupiniquins, Boldrim se considera uma espécie em extinção, mas não desiste e se mantém fiel ao purismo das cantigas. Não só as sertanejas, rótulo que ele não gosta. ?É música brasileira, que tem uma grande receptividade em todos lugares que me apresento?. Orgulha-se de difundir artistas esquecidos, mas com amplo conteúdo musical, quase inexplorado. Gente como Manezinho Arcanjo, autor de ?A mulher do Boticário?, uma das canções apresentadas por ele, no seu espetáculo. Manezinho, explica, foi quem criou a ?embolada?, um ritmo muito conhecido no Norte. Ambientado como se acontecesse num galpão, rodeado de coisas simples, mas que chamam atenção pela graciosidade, o show se desenvolve manso.

Entre música e outra, um causo. A receita é a mesma que ele já apresentava no Som Brasil, programa exibido pela Rede Globo e que o consagrou, nos anos 80. ?A receita é a mesma. O estilo não muda, porque o propósito é divulgar coisas nossas, da nossa cultura?, explica ele. O Sul, neste contexto, tem seu lugar garantido por causa da ampla identidade cultural que congrega. Atualmente, além dos espetáculos que realiza, Boldrin mostra essas potencialidades no programa ?Sr. Brasil? da TV Cultura. Todos os domingos, ele recebe artistas de variados estilos, mas que obedecem o preceito básico de mostrar a música brasileira de raiz. ?Vem gente de todo lugar e o programa realmente está pequeno para agregar tanta diversidade?, justifica. 

 

A VIDA EM CAUSO

A sua própria história de vida já renderia uma bela história. Ele é o sétimo de uma família de 12 irmãos. Nascido em São Joaquim da Barra (SP), conseguiu se tornar artista de verdade ao tentar a carreira na capital, aos 16 anos. Quando garoto, fazia duetos com os irmãos e conhecia tudo de viola. Com a dupla Boy e Formiga, fez sucesso e incentivado pelo pai, resolveu tentar a sorte na cidade grande, onde trabalhou como sapateiro, frentista, carregador e garçom, antes de se firmar como artista. Estreou na carreira musical nos anos de 1960, participando de um disco da cantora Lurdinha Pereira, que logo se tornou sua esposa e produtora de seus discos. Foi pioneiro na realização de programas de televisão dedicados à música brasileira autêntica, de inspiração regional, diferenciada da música de consumo: Som Brasil (TV Globo), Empório Brasil (TV Bandeirantes) e Empório Brasileiro (SBT). Atualmente comanda o Sr. Brasil (TV Cultura), aos domingos, 10 horas.

 

ENTREVISTA

A NOTÍCIA: Apesar do seu show não mostrar somente este estilo, como o senhor definiria a música sertaneja de raiz?

ROLANDO BOLDRIN: A chamada popularmente música sertaneja de raiz é aquela tradicional caipira, com temas puros, atrelados à realidade de vida, dos modos e costumes do homem do campo, e acompanhamento de viola e violão, com o canto em dueto simples.

A NOTÍCIA: É algo bem diferente da música sertaneja tocada hoje em dia nas rádios...

BOLDRIN: A chamada música sertaneja de hoje é uma música romântica, inspirada em músicas americanas, mexicanas e paraguaias. Essa música de alto consumo das duplas de sucesso nada tem a ver com a música caipira. É como se colocasse o Roberto Carlos para fazer dueto com outra pessoa e dissesse que isso é música sertaneja. Esse tipo de música, feita com intenção puramente comercial, encontra muito espaço na mídia, atualmente. O interesse é unir o brega a arranjos inspirados nas músicas internacionais.

A NOTÍCIA: O brasileiro conhece e gosta de música de raiz?

BOLDRIN: O brasileiro infelizmente confunde esse produto massificado com o produto puro, de origem cabocla, nascido com o homem do campo, na roça. Impõe-se e o público é enganado. Compra gato por lebre. Acha que é música sertaneja e não é. Se ele quiser comprar uma música sertaneja de raiz, também não encontra porque aquela música caipira autêntica está em extinção, está quase virando folclore.

A NOTÍCIA: Existe preconceito em relação à música sertaneja de raiz?

BOLDRIN: Existe.  As gravadoras acham que é um estilo de música que não é vendável. Isso não é verdade. Existe público interessado na música sertaneja de raiz, mas não vende porque é difícil de encontrar. As gravadoras não têm interesse em colocar no mercado. A música nordestina também só não virou folclore porque ganhou força numa época com o surgimento de artistas maravilhosos como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, entre outros.

A NOTÍCIA: Na sua opinião, o que falta para a música caipira emplacar?

BOLDRIN: Falta conscientização do público e da mídia. O público não exige, não muda o canal da TV, do rádio. O artista que resiste à massificação e mantém o seu trabalho puro não consegue se impor no mercado. O povo sofre muita influência do que vem de fora, não valoriza as tradições nacionais. O artista acaba por se vender para conseguir espaço. Até Caetano Veloso teve que gravar Peninha pra poder vender disco. Teve que apelar. Hoje você nem encontra mais programas de música brasileira na TV. Tudo que se tem atualmente é feito a partir de modelos que vem de fora.

 

ONDE ASSISTIR

TV Cultura, aos domingos, 10 horas. Reprise às terças, 22h30

 

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Edelcio Lopes

Repórter
Jornal A Notícia

Sucursal Joaçaba

(49)8403-9478
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