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PINTURA ISLÂMICA - BELEZA E FÉ

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Crítico de Arte

Isagogicamente, a pintura islâmica, ao longo dos séculos, se desenvolveu como uma das formas mais belas e intrincadas de expressão artística, profundamente enraizada na espiritualidade e nos preceitos religiosos do Islã. Embora a arte islâmica, em seu sentido mais amplo, abranja diversas formas de expressão — como a arquitetura, a cerâmica, o têxtil e a caligrafia —, a pintura, especialmente a iluminura de manuscritos e a arte mural, revela aspectos únicos dessa tradição artística. O equilíbrio entre a beleza estética e a fé é o que torna a pintura islâmica fascinante, pois ela transcende a simples representação visual para comunicar mensagens de devoção e contemplação.

Outrossim, no mundo islâmico, a interpretação das imagens visuais é influenciada por princípios religiosos. O Islã, em particular, desincentiva a representação de figuras humanas ou animais em contextos religiosos, devido à crença de que apenas Deus pode criar seres vivos. Esse princípio levou ao desenvolvimento de formas de arte que enfatizam o uso de padrões geométricos, arabescos, e, acima de tudo, a caligrafia, que muitas vezes assume um lugar central nas composições. A caligrafia islâmica, que frequentemente inclui trechos do Alcorão, é vista como uma maneira de tornar visível a palavra divina, e sua beleza visual é uma extensão da reverência pela palavra escrita.

No entanto, em contextos não religiosos, como em palácios, ilustrações de livros ou obras históricas, encontramos representações figurativas, especialmente em manuscritos persas e otomanos. Essas pinturas, muitas vezes ricamente detalhadas, mostram cenas de batalhas, festas, histórias mitológicas ou eventos do cotidiano. A precisão nos detalhes, o uso de cores vibrantes e o senso de simetria são características marcantes dessas obras. A representação de figuras humanas e animais nesses contextos é estilizada e, frequentemente, inserida em ambientes idealizados, em que a natureza é organizada de forma quase surreal, sem a perspectiva tridimensional que é típica da arte ocidental.

De outro vértice, a pintura islâmica é conhecida pela técnica de iluminação de manuscritos, um processo que envolve a inserção de folhagens de ouro e prata para dar brilho às páginas. Esta técnica, presente desde o período abasí até as grandes dinastias persas e otomanas, confere uma dimensão sagrada ao ato de leitura, associando a luz ao divino. Manuscritos ilustrados, como o “Shahnameh” (O Livro dos Reis) da Pérsia, são exemplos impressionantes da fusão entre narrativa, ilustração e fé, onde o poder e a beleza das histórias são reforçados pelas imagens.

Ademais da pintura de manuscritos, a arte mural também floresceu em algumas culturas islâmicas, embora fosse mais restrita a contextos palacianos e privados. Os murais em palácios de dinastias como os omíadas ou os abássidas retratavam cenas de caça, festas e outros eventos cortesãos, proporcionando uma visão da vida no período. O uso de cores intensas e a minuciosidade nos detalhes eram características que se repetiam tanto nas pequenas iluminuras quanto nas pinturas murais de grande escala.

Por conseguinte, a interação entre a beleza e a fé na pintura islâmica é evidente não apenas nos temas e formas, mas também no processo de criação dessas obras. Os artistas islâmicos frequentemente acreditavam que, ao criar padrões geométricos complexos ou ao transcrever passagens do Alcorão com precisão caligráfica, estavam participando de uma forma de adoração. A repetição e a simetria dos padrões geométricos, muitas vezes interpretados como uma representação do infinito, sugerem a ordem cósmica criada por Deus, reforçando a ideia de que a arte é uma reflexão da criação divina.

Em epitome., a pintura islâmica se configura arte de profunda espiritualidade, onde cada linha, cor e forma serve a um propósito maior. Seja nas iluminuras de manuscritos ou nos padrões geométricos encontrados em palácios e mesquitas, a beleza estética está sempre interligada à busca por expressar a fé e a reverência ao divino.

Por final, essa fusão entre o belo e o espiritual torna a pintura islâmica uma das manifestações artísticas mais singulares e atemporais da história da arte.

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