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AMOR AOS INIMIGOS
? José Passini (Revista SEI)
Há pessoas que, ao ouvirem esse ensinamento maior de Jesus, exclamam: ?Amor aos inimigos, isso é coisa para santos e eu não sou santo, como vou orar por aqueles que me perseguem?? Entretanto, se analisando por quem tem ?olhos de ver e ouvidos de ouvir?, veremos que o ensinamento de Jesus é para todos aqueles que se disponham a se tornarem cristãos...
Amor aos que não nos querem bem é exatamente o que distingue o ensinamento de Jesus daquele secularmente conhecido dos Judeus: ?... amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos? (Mateus, 5:43)
O Mestre é muito claro, quando reforça o ensinamento, para que não fiquem dúvidas: ?... se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos?? (Mateus, 5:46)
E vai mais além: ?Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?? (Mateus, 5:47). Os pagãos a que se refere Jesus não eram os não-batizados, conforme seria interpretado hoje. Pagãos, para os judeus, eram todos os que não fossem judeus. No caso, os romanos. Jesus quis, com isso, evidenciar que mesmo os romanos, que não acreditavam em Deus, amavam os seus amigos. Entretanto, para ser discípulo do Mestre, seria necessário um passo além.
Como se vê, Jesus não lança o ensinamento como uma máxima abstrata ou um conceito teológico para ser repetido no interior dos templos como fórmula mágica para agradar a Deus. O Mestre ensina que esse é o caminho daqueles que querem ser seus discípulos. E, para que fique claro, dá exemplos usando pessoas da sua época, do convívio cotidiano.
Chamando sempre as criaturas à reflexão, Jesus lhes diz: ?Se a vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos céus? (Mateus, 5:20). Nessa passagem, vemos que o Mestre concita o homem a transcender os simples limites da justiça, do ?olho por olho, dente por dente?, pois assim pensavam e agiam aqueles que se diziam seguidores de Moisés, que estavam presos unicamente à idéia de justiça.
Como a Natureza não dá saltos, devemos entender que o primeiro passo para o amor aos inimigos é não retribuir o mal com o mal. É necessário caminhar por etapas, conforme nos ensina ?O Evangelho segundo o Espiritismo?, no capítulo 12: primeiramente aprendemos a não deixar que o espinho do rancor, da mágoa entre em nosso coração. Daí a necessidade da vigilância e da oração. Exercendo a vigilância sobre nós mesmos, podemos verificar o que estamos guardando em nosso íntimo. Através da oração, conseguimos, pouco a pouco, expelir o fel da mágoa, do desejo de vingança e da malquerença. Vamos, assim, procedendo a uma revisão naquilo que guardamos no coração. Essa limpeza interior é extremamente saudável, pois, ao substituirmos os maus sentimentos por outros bons, estaremos melhorando nosso ânimo e até a nossa saúde física. Além do mais, não tendo mágoa, amargura, azedume dentro de nós, nosso relacionamento com o próximo será cada vez melhor, pois, como nos ensina o Evangelho, ?a boca fala daquilo que o coração está cheio?.
Assim é que aprendemos a retribuir o mal com o bem. É um processo vagaroso, a ser desenvolvido ao longo dos séculos. Aquela extraordinária capacidade de perdoar, Ghandi não a recebeu como graça, nem a conseguiu de um dia para outro.
O Espiritismo, como doutrina evolucionista, nos ensina que a santificação não se consegue com o esforço alheio, nem através de rezas, nem de graças caídas do céu. O progresso, a espiritualização da criatura humana é tarefa individual, constante, intransferível e consciente.
O Mestre iniciou um novo ciclo da evolução humana, ensinando o caminho para a angelização do homem, no sentido de transcender os limites da justiça, alcançando os da misericórdia.
O desafio evolutivo está lançado, a palavra está conosco...
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