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Lendo com você - 131

Professora Schirley

LEITURA  E  EXCLUSÃO  SOCIAL

         Fundamental, ao pretender ensinar a leitura, é convocar o homem para tomar da sua palavra.

 

         A exclusão social é um fenômeno de múltiplas dimensões e pode estar associada à falta de acesso a bens e serviços assim como à segurança, á justiça e à cidadania. Não está, pois, ligada apenas à pobreza, mas também a situações de discriminação e privação de direitos humanos.

         Problema plurifacetado que afeta países ricos e pobres, pode ser pensado, também, da perspectiva da teoria da leitura, uma vez que a incapacidade de incorporar a prática da leitura na vida cotidiana é um elo determinante na ?cadeia de exclusão? social.

         Antes de mais nada, é necessário distinguir dois tipos de exclusão social: primária e secundária. A primeira, situação em que as pessoas já nascem num quadro de pobreza e estão excluídas, a priori, da participação social e dos direitos humanos; e a secundária, quando o empobrecimento ou outras contingências (imigração, guerras) privam de certos direitos o indivíduo ou grupo anteriormente integrados na sociedade.

         Enquanto a segunda vem ocorrendo em nações do hemisfério norte, no Brasil, coexistem os dois tipos, embora seja um país estigmatizado, desde as origens, pela exclusão primária. Hoje, nos causa espanto o alto número de brasileiros iletrados, vivendo à margem de uma sociedade grafocêntrica, isto é, onde a palavra escrita é uma das ferramentas mais importantes de comunicação.

         Mas, como lembra Alfredo Bosi (1977), desde a implantação da cultura letrada portuguesa no Brasil ficaram abaixo do limiar da escrita quase todos os conteúdos da vida indígena, da vida escrava, da vida sertaneja, da vida artesanal, da vida proletária, da vida marginal; abaixo do limiar da escrita ficaram as mãos que não puderam contar, no código erudito, a sua própria vida.

         Banidas foram essas categorias, não só do direito de ler a história oficial, como de se inscrever, no sentido pleno da palavra, nessa mesma história.

         Neste começo de milênio a exclusão social em expansão ganha outras nuances. Segundo o Prof. Henrique Rattner, da Universidade de São Paulo, ? o problema central da humanidade, nesta era de incertezas, é a busca, às vezes desesperada, da identidade, do sentimento de pertencer e de compartilhar com o grupo, sem o qual os indivíduos não conseguem encontrar o ?sentido da vida?. ? Pode-se acrescentar que o enfraquecimento da auto-estima de quem não consegue acompanhar a velocidade da chamada ?sociedade da informação? os leva à paralisia enquanto seres políticos. Sem capacidade para ler e entender os textos que informam a vida cotidiana, o cidadão se vê cada vez mais alijado do exercício de cidadania.

 

         Ora, o ato de ler e escrever, não sendo um ato natural, mas cultural e historicamente demarcado, pressupõe o suporte de uma complexa trama de relações sociais, culturais e políticas para se concretizar. A formação do leitor que entende o que lê, é fato sabido, não garante apenas através da alfabetização, a cargo da Escola, mas está relacionada a um contato significativo com a informação oral e escrita, variada, desde muito cedo, fruto de uma ação consciente por parte do Estado, da família, da escola, das bibliotecas e centros culturais, entre outros. Ou, inferindo-se das pesquisas de Carmem Craidy, pesquisadora da UFRGS na linha de leitura e exclusão social, não existe uma relação de causa e efeito entre alfabetização e leitura. A competência para ler e escrever não garante a realização concreta delas se não existe a necessidade objetiva para tal.

         Paradoxalmente, o enfraquecimento do Estado e a conseqüente diminuição do espaço para a operação de políticas públicas nas áreas de educação e cultura, marcas da globalização, só têm ampliado a distância entre o sujeito excluído e a oportunidade de vir a participar dos processos de escolarização, entre outros benefícios sociais.

         Ainda que a Constituição Brasileira assegure à população o direito à educação básica, há flagrante desencontro  entre o que está configurado na Carta e a ação concreta do poder público no sentido de efetivá-lo. A realidade que se mostra é um jogo político de inclusão e exclusão em que a seleção das categorias sociais ?incluídas? e ?excluídas? se faz segundo decisão dos detentores do poder, de acordo com o modelo de desenvolvimento que exige, cada vez mais, um número cada vez menor de pessoas muito qualificadas. Aos desfavorecidos cabe se conformar com uma (sub)inclusão estrategicamente elaborada na forma de programas assistenciais, inclusive no campo da leitura.

 

 

         Fonte de pesquisa- Texto de Maria da Conceição Carvalho.

 

                   Com carinho -  PROFESSORA   SCHIRLEY  

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