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O TEMPO jornal de fato

KEYNES, LUMINOSO ECONOMISTA

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)


Em primeiro lugar, John Maynard Keynes avultou entre os pensadores revolucionários, constituindo-se em arquiteto de ideias que, diante das ruínas econômicas da Grande Depressão, ousou desafiar os dogmas estabelecidos e reescrever as regras da economia. Seu brilho não reside apenas na originalidade de suas proposições, mas, sobretudo, na coragem intelectual de propor soluções práticas para problemas urgentes, abrindo caminhos que moldaram o século XX e ainda ecoam com força no século XXI.

De outro vértice, nascido em 1883, no seio de uma família culta da Inglaterra, Keynes teve uma formação que combinava o rigor analítico de Cambridge com a sensibilidade artística e filosófica dos círculos intelectuais dos quais participou. Muito cedo se destacou pela clareza de pensamento e capacidade de articulação, habilidades que o levaram ao Tesouro Britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Sua experiência com as negociações do Tratado de Versalhes, da qual se afastou por discordar dos termos impostos à Alemanha, resultou em sua primeira obra de impacto: As Conseqüências Econômicas da Paz (1919). Ali, já demonstrava seu dom de antever os desdobramentos sociais e políticos das decisões econômicas — algo que faltava a muitos de seus contemporâneos.

Contudo, foi com A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936) que Keynes realmente brilhou como um farol em meio às trevas da depressão econômica mundial. Nesse livro seminal, ele desmonta a noção clássica de que os mercados sempre se autoajustam para garantir pleno emprego. Em vez disso, apresenta uma visão em que a demanda agregada — composta pelo consumo, investimento e gasto público — é o motor essencial da economia. Quando essa demanda é insuficiente, o desemprego pode persistir indefinidamente, e cabe ao Estado intervir para restaurar o equilíbrio.

Essa proposta — de que o estado exerce papel ativo no estímulo à economia — provocou uma verdadeira revolução. Durante décadas, a ortodoxia econômica sustentava que o mercado era uma engrenagem perfeita e autorregulada. Keynes desmontou essa fantasia com base em dados concretos e lógica irrefutável. Sua solução prática era clara: em tempos de crise, o Estado deve gastar, mesmo que isso implique “deficits” temporários, pois o custo social da inação é infinitamente maior. A economia, para Keynes, não era uma equação fria, mas um organismo vivo, sensível às expectativas, aos sentimentos e à confiança dos agentes.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos países adotaram políticas inspiradas por Keynes. Nos chamados "Trinta Gloriosos", entre 1945 e 1975, o mundo viu uma era de crescimento econômico, redução das desigualdades e avanços sociais — resultado direto da aplicação de ideias de Keynes. O “New Deal” de Roosevelt, o Welfare State europeu, os planos de reconstrução do pós-guerra: todos têm a marca indelével do pensamento de Keynes.

Todavia, a sua influência não se limita ao campo da macroeconomia. Keynes foi também um pensador da cultura e da civilização. Defensor das artes, da ciência e da racionalidade iluminista, acreditava que o progresso econômico deveria estar a serviço do bem-estar coletivo e do florescimento humano. Sua visão de futuro era otimista: sonhava com uma sociedade onde as pessoas pudessem se libertar da escassez material para dedicar-se à arte, ao pensamento e à vida plena.

Todavia, a partir da década de 1970, com a crise do petróleo e a ascensão das doutrinas neoliberais, Keynes foi sendo progressivamente relegado. Os monetaristas de Chicago, liderados por Milton Friedman, retomaram a velha crença no mercado como mecanismo autorregulador, e os governos passaram a desconfiar do gasto público.

 Isso posto, como nas grandes tragédias gregas, o retorno de Keynes se dá nos momentos em que mais se precisa dele. A crise financeira de 2008, à guisa de exemplo, trouxe uma revalorização de seu pensamento. Economistas, Administração Pública e instituições internacionais voltaram a reconhecer a necessidade da intervenção estatal para evitar o colapso do sistema.

Hoje, em meio a novos desafios — desigualdade crescente, emergência climática, instabilidade geopolítica — o pensamento de Keynes revela-se mais atual do que nunca. Sua crítica ao "curto-prazismo" dos mercados, sua ênfase na ação coletiva e sua visão de uma economia voltada para o bem-estar e não apenas para o lucro são bússolas indispensáveis num mundo em busca de rumo.

Em epítome, Keynes se configurou em economista luminoso no mais profundo sentido do termo: alguém que iluminou caminhos em tempos de escuridão. Outrossim, seu  legado nos lembra que a economia, embora fundada em números e curvas, é uma ciência humana, feita por e para pessoas.

Por final, trata-se de fonte de a esperança,  inteligência e a ação política para construção de futuro mais justo e próspero para todos.


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