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ÁRABES, CHINESES E PERSAS – TRÊS CULTURAS MILENARES

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Em primeiro lugar, a história da humanidade se constitui profundamente marcada pelas civilizações milenares que moldaram, com saberes e tradições singulares, o mundo em que vivemos. Entre essas, destacam-se três povos cujos legados permanecem vivos e influentes até hoje: os árabes, os chineses e os persas. Cada um deles desenvolveu, ao longo dos séculos, culturas ricas, sistemas filosóficos e científicos notáveis, bem como estruturas sociais e religiosas complexas. A revisão dos caminhos desses povos, compreendemos melhor não apenas o transato, mas também muitos aspectos do presente.

Destarte, a civilização árabe floresceu, sobretudo a partir do século VII, com a unificação das tribos da Península Arábica sob o Islã, fundado pelo profeta Maomé. No entanto, a cultura árabe possui raízes muito anteriores, ligadas a tradições nômades, à poesia oral e ao comércio de caravanas pelo deserto. Com a expansão islâmica, os árabes rapidamente estabeleceram um império que se estendia da Península Ibérica até a Índia, e com ele floresceu a chamada “Era de Ouro Islâmica”, que entre os séculos VIII e XIII testemunhou avanços extraordinários nas ciências, nas artes e na filosofia.

Durante esse período, cidades como Bagdá, Córdoba e Damasco tornaram-se centros intelectuais vibrantes. Os árabes não apenas preservaram o conhecimento grego e romano, como também o ampliaram em áreas como matemática (com destaque para a álgebra), astronomia, medicina e filosofia. Figuras como Avicena (Ibn Sina) e Averróis (Ibn Rushd) foram cruciais na transmissão e transformação desse saber. A cultura árabe também brilhou na literatura — com obras como "As Mil e Uma Noites" —, na arquitetura, com as cúpulas e arabescos dos palácios e mesquitas, e no comércio, que ajudou a interligar o mundo afro-euro-asiático.

De outro passo, a civilização chinesa remonta a mais de 4.000 anos, com as primeiras dinastias registradas, como a Xia e a Shang. Ao longo dos milênios, a China desenvolveu uma das culturas mais coesas e duradouras da história, pautada por sistemas éticos e filosóficos profundamente influentes, como o confucionismo, o taoísmo e, posteriormente, o budismo. A dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.) consolidou muitas das características que definiriam a identidade chinesa, como a centralização do poder, os exames imperiais baseados no mérito e a valorização da erudição.

Outrossim, a China antiga também foi berço de inovações tecnológicas e científicas surpreendentes. A invenção da bússola, do papel, da pólvora e da imprensa de tipos móveis transformaria o mundo. Durante a dinastia Tang (618–907) e, depois, a Song (960–1279), a cultura chinesa viveu momentos de esplendor: floresceu a pintura de paisagem, a poesia (com nomes como Li Bai e Du Fu), e a organização urbana das cidades ganhou sofisticação. O Confucionismo influenciou profundamente a estrutura familiar, a política e o senso de dever coletivo, moldando uma civilização centrada na harmonia social e na autoridade moral.

Em paralelo, a civilização persa — localizada na região que hoje corresponde principalmente ao Irã — consolidou-se como um dos mais importantes impérios da Antiguidade e da Idade Média. A partir do século VI a.C., com o Império Aquemênida fundado por Ciro, o Grande, os persas estabeleceram um modelo administrativo inovador, baseado na tolerância cultural e na divisão de satrapias (províncias). Esse império abrigou povos de diferentes etnias e religiões, criando um modelo multicultural antes mesmo da palavra existir.

Com sucessores como Dario e Xerxes, os persas desenvolveram uma rede de estradas e correios, além de uma moeda única, o que facilitava o comércio e a governança. O zoroastrismo, religião fundada por Zaratustra, pregava a dualidade entre o bem e o mal e influenciou conceitos posteriormente incorporados por outras tradições religiosas. Após a conquista islâmica da Pérsia no século VII, a cultura persa não desapareceu — pelo contrário, fundiu-se com a cultura árabe, mas preservou sua identidade e continuou contribuindo para a literatura, a arte e o pensamento islâmico. Poetas como Rumi, Ferdusi e Hafez marcaram a literatura mundial com suas obras líricas e filosóficas.

Importa destacar que essas três culturas, embora distintas, dialogaram ao longo da história por meio das rotas comerciais, das guerras e das trocas intelectuais. A Rota da Seda, por exemplo, conectava a China ao mundo árabe e persa, promovendo intercâmbios que iam além das mercadorias: conhecimentos astronômicos, técnicas de cultivo, remédios, crenças religiosas e ideias filosóficas circulavam por essas rotas. Esse entrelaçamento moldou parte da civilização eurasiática e plantou as sementes daquilo que hoje chamamos de globalização.

Cada uma dessas civilizações contribuiu com uma visão de mundo complexa, integradora e profunda. Os árabes, com sua valorização do saber e sua capacidade de síntese cultural; os chineses, com seu senso de continuidade histórica e ordem moral; e os persas, com sua poesia mística e organização imperial sofisticada, deixaram marcas indeléveis em áreas como a filosofia, a política, as ciências e a espiritualidade.

No mundo contemporâneo, a herança dessas culturas ainda se faz presente de múltiplas maneiras. A arquitetura islâmica, a culinária chinesa, a poesia persa, a caligrafia árabe, os princípios confucionistas de respeito à hierarquia e os valores éticos zoroastrianos ainda influenciam sociedades inteiras, tanto no Oriente quanto no Ocidente. Ao estudar essas civilizações milenares, somos convidados não apenas a admirar seus feitos, mas também a refletir sobre as raízes culturais da humanidade e sobre o valor da diversidade na construção de um mundo mais justo e plural.

Em epíome, em tempos de conflitos geopolíticos e tensões culturais, recordar a riqueza dessas tradições milenares pode ser um antídoto contra o preconceito e a ignorância. A história dos árabes, chineses e persas nos ensina que o contato entre povos, mesmo em meio a diferenças, pode gerar formas novas e brilhantes de civilização.

Por final, trata-se, portanto, de uma lição valiosa sobre tolerância, curiosidade e respeito — virtudes que continuam sendo tão urgentes quanto atemporais.


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