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O TEMPO jornal de fato

VOLTANDO NO TEMPO - há 41 anos da grande cheia do Rio do Peixe (1983)

1989 – 2024 – são 35 anos de trabalho prestado.

Os fenômenos meteorológicos em Capinzal: a fúria das águas.

Julho de 1983, portanto, há 41 anos.

Ao adentrar, o mês de julho de 1983 o fez com acentuada queda de temperatura, garoas intermitentes, as quais, com o decorrer dos dias, acentuaram-se, acabando por se transformarem em chuvas torrenciais de longa duração.

As notícias recebidas de Porto União, ou cidades abaixo, davam conta de que em todo o Vale do Rio do Peixe as chuvas eram violentas e torrenciais, transformando em caudaloso e destruidor qualquer córrego de águas, em condições normais.

Uma cadeia noticiosa foi formada em todo o Vale do Rio do Peixe, através de rádios emissoras, rádio amador, telefones e, enquanto apresentaram condições de funcionamento operacional, cumpriram com suas finalidades só cessando quando da ausência absoluta de energia elétrica.

Nas cidades atingidas e, como consequência na de Capinzal, a defesa civil, onde era organizada, procurou usar de todos os preparativos possíveis e imagináveis, com a finalidade de evitar problemas mais graves. Em Capinzal, as autoridades, polícia civil e militar e mesmo grupos de particulares organizados, tomavam as providências cabíveis, no sentido de se prepararem para a catástrofe iminente. Os comerciantes retiravam as suas mercadorias para locais seguros. O mesmo ocorria com as “mudanças” das casas que fatalmente seriam atingidas pela incontestável massa d’água. Davam maior ênfase à segurança do ser humano.

Devemos ressaltar que parte dos moradores ribeirinhos, tanto do Rio Capinzal, como do Rio do Peixe, relutaram em retirar suas mercadorias ou mudanças das salas de comércio ou das residências, alegando que a mais de quarenta anos residiam no local, sem nunca terem sido molestados pelas águas. Entretanto, a maioria da população, prevendo desgraça imediatamente, previsível, pelo acentuado crescimento das águas, fez uso de todos os meios possíveis e imagináveis para aliviar o impacto da fatalidade, que estava prestes a se abater na cidade de Capinzal, sem condições de ser evitada.

No dia 06 de julho, ao anoitecer, as águas crescidas do Rio do Peixe represaram as do Rio Capinzal, fazendo com que estas invadissem as ruas Dona Linda Santos, Narciso Barison e parte da Carmelo Zocoli e Ernesto Hachmann, atingindo de forma integral todas as casas ribeirinhas e mesmo os pavimentos térreos das edificações do centro da cidade.

As notícias recebidas das cidades acima de Capinzal eram desesperadoras, pelos prejuízos e estragos em patrimônios do comércio, da indústria ou de particulares, com alagamento total de bairros, deslizamentos, desmoronamentos. As estações ferroviárias atingidas tiveram prejuízo total de dezenas de vagões carregados que se encontravam nos trilhos à espera das locomotivas.

Apesar dessas notícias, macabras por excelência, Capinzal não esmoreceu, prosseguindo na luta de salvamento, senão no todo, ao menos na maior quantidade possível dos bens e do patrimônio dos capinzalenses, recebendo reforços jamais imaginados com a chegada de caminhões enlonados, tratores com os competentes carretões, camionetas, dezena de peões e trabalhadores da agricultura e das fazendas, do interior, que, distantes da massa d’água, com os bens garantidos, deslocaram-se para a cidade, participando ativamente no salvamento do patrimônio dos irmãos da zona urbana.

E, em poucas horas, a grande quantidade d’água do Rio do Peixe, com violência indescritível, invadiu as estações ferroviárias e rodoviárias, transformando a Rua Ernesto Hachmann em um rio caudaloso, com potência superior ao próprio Rio Uruguai em condições normais.  Foi atingido o Bairro Beiro Rio, na época com oitenta e nove edificações – residências, comércio e pequenas indústrias. Nesse bairro, só se encontravam residências vazias, pois os moradores e seus pertences já se encontravam em locais seguros.

Como última alternativa, e com certo perigo das caudalosas águas, houve a tentativa de serem as casas amarradas com cabos de aço, nylon ou mesmo cordas, no afã de salvar algumas edificações, preservando a sua integridade. Entretanto, vãos foram os esforços, em razão da correnteza trazer em seu bojo gigantesco troncos de árvores arrancados em algum lugar, com as grandes raízes expostas que, como um aríete, atingiam as casas, os muros, os carros, os postes, destruindo-os e levando-os juntos.

As casas, em decorrência dos problemas que sofriam, começaram a ruir e mergulhar em definitivo ao sono eterno nas barrentas águas do Rio do Peixe. As águas tornaram-se furiosas  violentas, devido aos entulhos que conduziam como armas de grande poder de destruição.

Quando as primeiras luzes do dia 7 de julho de 1983 começaram a se fazer presentes, o povo se deparou com um imenso rio de violentíssimas corredeiras, em pleno centro da cidade. No local onde até o dia anterior se situava o pacato e bucólico Bairro Beira Rio, onde residiam mais de quatrocentos capinzalenses, passava agora uma corredeira. Não era mais visível um único sinal de casa, por terem, na íntegra, sido tragadas pela violência da natureza incontrolável, representada por aquela cheia sem precedentes.

Vagões da estrada de ferro, vazios ou carregados, foram arrastados, acarretando vários prejuízos não só ao comércio, à indústria ou a particulares, mas também às redes elétricas e telefônicas, que foram totalmente destruídas. Ruas, calçadas ou asfaltadas, apresentavam-se com terríveis crateras, afora as oitenta e nove casas do Bairro Beira Rio consumidas pelas águas.

Os hóspedes do Hotel Bevilaqua foram retirados, alguns deles, quando as águas já atingiam a marquise, acima do andar térreo, através de botes, atrelados por cabos a camionetas pick-up, funcionando no alto da rua, para vencer a correnteza.

Na praça do Terminal Rodoviário, além de carros destruídos pela enchente, com a baixa das águas, foram encontrados dezenas de imensos troncos de madeira, os quais foram cortados com motosserras, retirados por caminhões e guinchos, dos proprietários de serrarias.

O Poder Executivo, sentindo o drama de seu povo e da cidade, providenciou legislação adequada, a fim de considerar a área do ex-Bairro Beira Rio imprópria para a construções, principalmente, de residências, bem como, de imediato, adquiriu uma gleba de terras na cidade alta, iniciando a dotação de infraestrutura para alojar, em definitivo, os flagelados, compondo as transações através de permutas, compra e venda, doação etc.

O prefeito da época, Celso Farina, não mediu esforços a fim de oferecer condições aos habitantes do no bairro para viverem com dignidade e, acima de tudo, sem preocupações com as águas.

O terreno anteriormente ocupado pelo Bairro Beiro Rio, através do projeto devido e legalmente aprovado, foi transformado em área de lazer. Hoje se encontra à disposição de toda a comunidade, sendo denominada Área de Lazeer Dr. Arnaldo Favorito, homenagem feitaao insigne médico, dileto filho de Capinzal, por adoção, o qual, pelo período de cinquenta anos, exerceu na cidade sua profissão. Competente e caridoso, ele só deixou o trabalho quando morreu. É, ainda, nesse local que se realizam os grandes eventos da cidade de Capinzal, como a Chesterfest  

  

Fonte: Livro Capinzal: joias desta terra e desta gente, de autoria do escritor e historiador Dr. Vitor Almeida, de saudosa memória.

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Aldo Azevedo / jornalista

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