Por Evani Marichen Lamb Riffel Escritora, Pedagoga e psicopedagoga.

      Num dia desses, calor intenso dezembrino, em estação de verão tropical, tive uma espera na fila de atendimento de um banco local, onde fui cotar um seguro de automóvel...

      A fila andava lenta e a tela da senha se arrastava, todavia o que amenizava a espera era a temperatura ambiente condicionada, agradável. Tenho uma briga interior incrível com filas, uma ansiedade desagradável porém, neste dia, do meu lado sentam-se duas mulheres numa conversa que não teria como não ouvir, distrair, extrair.

 Sabe Leitor(a), aquele papo que nestes tempos modernos, apressados, quase ninguém tem tempo de ouvir ou de falar.

      O diálogo entre as duas mulheres começou assim... A primeira a falar, fitou a outra e exclamou :

      -Nossa é incrível sua semelhança com minha irmã que foi morar para longe. Há quatro anos não a vejo, tenho saudades dela.

As lágrimas rolam em seu rosto matreiras.

            -É mesmo? Meu velho pai dizia sempre que no mundo existem duas pessoas muitíssimo parecidas, falou docemente, a segunda.

      Na confiança da amabilidade, ela, aquela primeira senhora da fila, começou a falar da vida, das pessoas que não tem tempo, das pessoas que só correm atrás de dinheiro, daquelas que muito tem e se tornam sovinas, escravas do dinheiro.

 Ainda acrescentou que é cientificamente comprovado que no mundo, existem duas e até sete pessoas incrivelmente parecidas e podem ser de diferentes nacionalidades.

      E a primeira mulher na confiança ou desabafo, foi contando de sua vida:

      -Sabe, nesta véspera de Natal, agradeço pelo pouco que tenho, oro ao pai Celeste por todos, indistintamente...

Porém, sou sincera em dizer que tenho tomado o chá da tarde com lágrimas, emagreci uns bons quilos por estes dias. As lágrimas marejam naqueles bondosos olhos azuis.

      Fita-a calada a ouvinte, o silêncio fala enquanto oferece seu ombro amigo... Encorajada o desabafo continua... Continua sua história:

      -Companheira,meu Natal, neste 2018, será muito triste, tenho quatro filhos, entre eles duas filhas que se mudaram para longe e não vou vê-las neste Natal. Queria tanto reunir meus filhos envoltos em clima natalino. Não consigo aceitar a ausência delas.

      Segurou suas mãos, a outra mulher emocionada e simplesmente disse:

      -Suas filhas mudaram para melhor?

      -Sim, sim, estão muito bem, bem empregadas, com melhores expectativas de vida que cá tinham.

Respondeu a paciente ouvinte com olhos e gestos bondosos e brandos:

-Querida, nos conhecemos hoje, nesta fila de banco, mas posso lhe dizer que eu tenho também uma ausência marcada há anos: na mesa das nossas refeições, no quarto vazio, na escova dental, no desodorante sem validade, no pente, nas coisas pessoais que ficaram sem dono... Nas roupas preferidas que vestiram outras pessoas... Nos órgãos, a doação destes, que seria de sua vontade estivessem vivos em alguém, ausência marcada em todos os natais... Da vida.

Nem bem acabou de falar aquela do ombro amigo, e a lamuriosa, disse:

-Me perdoe!!!

      As duas mulheres se abraçaram em mudo consolo e abrandaram suas histórias de vida em um sonoro...FELIZ NATAL!!!

     Nossa!!! A fila acabou. Seguiram as duas mulheres com  senhas distintas, para distintas mesas de atendimento.

      Dim, dom...Dim, dom... Minha senha me chama! Nossa!!!! Como andou rápida, a fila!

      Alcanço a rua, o sol escaldante, as pessoas apressadas, o movimento intenso de transeuntes e de carros, apresso o passo também, mas depois desta história na fila penso em andar mais devagar pela vida e com pressa de realizar meu maior sonho: escrever muitas histórias de vida vivida, pois... O tempo voa e estou na fila...

     P. S.

        Caro(a) Leitor(a), olhe para o lado, são tantas histórias... E a nossa, pode não ser a cruz mais pesada. Ouça o outro, ofereça um ombro amigo e palavras de consolo, atitudes que são caridade pura, não tem preço.

A caridade, pratique-a para um Feliz e Abençoado Natal!

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