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Lendo com você - 125

Professora Schirley

             ENTREVISTA

                  

                   ELOÍ  ELISABETE  BOCHECO

                  GRANDE  ESCRITORA- Orgulha Santa Catarina

                  É reconhecida no Brasil e na Europa

                  Foi Professora em Capinzal.

 

         A maior parte de sua vida trabalhou como professora em Escolas públicas de Santa Catarina. Nos municípios de Capinzal, Joaçaba, São José e Florianópolis. Trabalhou também como redatora no palácio do governo.

         Iniciou como escritora em 1988. Deu sua colaboração no Caderno de Cultura do Jornal ?A Notícia?, de Joinvile(SC)- 1988- 2001). 

         Publicou os seguintes livros:

UNI...DUNI...TEIA (1998)- editora Papa-Livro- Florianópolis/SC.

         (Prêmio Boi-de-Mamão da Câmara Catarinense do Livro.

A de AMOR A de ABC (1999)- Ed. Papa-Livro.

Ô de CASA! ( 2000) ? Ed. Argos

Livros estes de poemas para crianças.

Publicou também: POESIA INFANTIL- O ABRAÇO MÁGICO?- Ed. Argos) . Livro para educadores.

O PACOTE QUE TAVA NO POTE ( Ed. Paulinas/SP.

Já traduzido na Inglaterra.

Selecionado para o Catálogo e para a feira de Frankfurt (Alemanha)

Selecionado para O PNLD-MEC e adquirido para as escolas e bibliotecas públicas do Estado de São Paulo.

        

         Falar do Livro ?O PACOTE QUE TAVA NO POTE? é motivo de muita alegria. A personagem ?A bruxinha Elisa? conquista qualquer leitor, pois desperta lembranças do mundo mágico da infância.

         A coluna ?HISTÓRIAS PRA BOI ACORDAR? embala e encanta as horas de curtição pelas histórias fantásticas que nos remete aos sonhos.

 

         A ESCRITORA ELOÍ (E. E.) fala um pouco sobre sua paixão por escrever, aos ALUNOS da OFICINA de REDAÇÃO (A.O.R.)

 

         A.O.R. Os seus três primeiros livros são de poemas para as crianças. Escrever para crianças é uma paixão ou também tem uma intenção específica?

E. Eloí- Escrever literatura é um exercício apaixonante. A escrita literária difere de todas as outras escritas porque lida com a palavra criadora, a palavra em liberdade, livre das convenções. Escrevo com a mesma paixão para crianças, jovens ou adultos. No caso do texto literário, creio que intenções, a priori, não fazem sentido. A intenção pode tolher a liberdade da criação e acabar com a beleza e literariedade do texto. Talvez, a única intenção válida seja a de escrever com arte. De certo modo, quem escreve é um pouco súdito das armadilhas das palavras. A palavra literária é uma palavra extremamente rebelde, irreverente, transgressora, não se deixa aprisionar fácil. Com toda certeza, não é uma palavra óbvia, seca, rotineira. É divertido lidar com elas, mas também dão muito trabalho! Drummond já falava que ?lutar com as palavras é a luta mais vã?. Falava da palavra literária, que nunca se deixa aprisionar pela lógica racional ou pela rotina.

 

         A.O.R. ? O livro ?O Pacote que tava no Pote? desperta lembranças da infância. A senhora teve uma infância regada de histórias que alimentaram o seu imaginário? Conte-nos o que mais contribuiu para despertar o gosto pela literatura e a paixão por escrever.

         E. Eloí-  Tive uma infância riquíssima em contos e poemas da tradição oral, transmitidos, principalmente, por minha mãe. Esse repertório era contado muitas e muitas vezes e era ouvido sempre com renovado prazer e encantamento. Meu pai, com toda a calma, contava as histórias da bíblia, especialmente as do velho testamento. Além disso, havia os serões onde exímios contadores se juntavam e contavam histórias de todos os gêneros, às vezes, até o galo cantar.

         Então, a minha formação discursiva vem da tradição oral;meu saber interpretativo está fincado nesse repertório onde a linguagem é solta, musical, lúdica, mágica, poética, com muito nonsense, e profundamente afetiva.

         Quando me tornei escritora é que compreendi a riqueza desse manancial que recebi de herança. Meus textos dão a mão a essa biblioteca oral, encravada em minha memória. A infância é o chão sobre o qual caminhamos a vida toda. Somos de um lugar, somos de nossas memórias.

         A modernidade eliminou o passado e cultua somente o presente com seus valores voláteis, mas creio que a vida precisa de suas raízes para ser humana.Fora disso, é o caos e a barbárie.

         Quando entrei para a escola, tive a sorte de encontrar professores apaixonados pelo conhecimento, que me apresentaram ao livro literário e me mostraram o caminho para a biblioteca escrita.

         Destaco, especialmente, a professora Ana Schirley e o professor Paulo Bragatto Filho, mestres inesquecíveis para mim. Através deles, mergulhei nas obras dos grandes escritores como Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Dostoiewsky, José Lins do Rego, Cecília Meireles, Machado de Assis, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Steinbeck, dentre tantos outros. Considero que tive um grande privilégio, que foi o de atar as duas pontas do discurso: o popular e o erudito. Da mistura desse caldo de culturas é que tiro o sustento para o que escrevo.

 

A.   O.R. ? A senhora é responsável, junto com Zenilde Durli, pela pauta do Jornal de Literatura Infantil e Juvenil ? O BALAINHO?, da Universidade do Oeste de SC. (UNOESC). A senhora também sabe que quase não existem programas efetivos com políticas públicas voltadas ao Livro e à Leitura.

Que medidas podem e devem ser tomadas por governos e pela própria sociedade já que educação se faz com livros? Tem sugestões?

 

E. ELOÍ- Recentemente foi sancionada a Lei do Livro no país. Precisa ser mais divulgada para que os cidadãos possam exigir o cumprimento da Lei nos Estados e Municípios. Há Estados , como o Ceará, o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, que já têm a sua própria Lei do Livro.

         Em Santa Catarina, não temos nem Lei do Livro,nem políticas públicas efetivas de leitura. As políticas para o livro deveriam ser uma questão de Estado e não de governo.Em geral, a prática vigente em nosso país é expurgar tudo que era do mandato anterior . Os bons projetos não têm continuidade.

         As prefeituras, em SC, salvo as boas exceções, não têm o livro e a biblioteca como prioridade. Não fazem investimentos com vistas à formação de leitores.

         Consultando, na internet, os sites das prefeituras, e observando a lista de realizações de Secretarias Municipais de Educação, constata-se que, algumas prefeituras, e não são poucas, sequer citam a palavra livro, biblioteca. Falam de suas realizações, mas, em nenhum momento, citam como preocupação o investimento em livros, a melhoria das bibliotecas.

         Isso é assustador, pois sabemos, pelas pesquisas que 59% dos alunos brasileiros chegam à 4ª série do Ensino Fundamental, sem habilidades mínimas de leitura, e 67% dos alunos de 15 anos que freqüentam a escola, não conseguem interpretar o que lêem. Se não investirmos em livros e leitura, como vamos melhorar esse quadro crítico?

As autoridades gabam-se de equipar as escolas com computadores. Precisamos da tecnologia, é claro, mas não podemos prescindir do livro, inclusive porque as novas tecnologias exigem competência em leitura para seu real proveito.

         Não podemos aceitar que o investimento em livros seja a exceção. Temos 293 municípios em SC., destes, quantos investem em bibliotecas públicas e escolares, capacitação de professores para dinamizar a leitura, atualização de acervos, pessoal qualificado para as bibliotecas?

Algumas prefeituras fazem trabalhos notáveis, sem dúvida, mas são exceções, e não podemos aceitar, como cidadãos, que o investimento na formação de leitores seja a exceção!

 

         A.O.R.- Sabemos que a senhora escreveu e escreve CRÔNICAS. Quando vai ser editado este livro? O que pode adiantar sobre o livro e as crônicas?

 

         E. ELOÍ- O livro de Crônicas está no prelo da Editora da UFSC e está na lista de lançamentos da Editora para 2005. Chama-se ?PEDRAS SOLTAS? e reúne uma seleção das crônicas que publiquei durante três anos no caderno Cultural do jornal A NOTÍCIA de Joinvile/SC.  Além do PEDRAS SOLTAS tenho, no prelo, para sair em setembro e novembro, respectivamente, dois livros infantis, quais sejam:

?HISTÓRIAS PRA BOI NÃO DORMIR ( Ed. Franco/ Juiz de Fora/MG.)

?CONTRA FEITIÇO, FEITIÇO E MEIO? ( Ed.Paulinas/SP.)

 

         A.O. R. ? Para a senhora, que foi professora e é uma grande escritora, em que consiste ensinar Língua? E como despertar a paixão de ler mais, nas crianças e jovens?

 

         E. ELOÍ- Ensinar língua é ensinar a pensar, ensinar a ser usuário competente da língua em todas as situações de uso que a vida em sociedade requer. É ensinar a ler e escrever, com discernimento crítico, todos os tipos de textos que circulam na sociedade. O ensino de Língua deveria se preocupar em formar leitores para a vida toda. Apaixonar pela literatura, texto fundamental para a criação da identidade. Se a escola conseguisse criar leitores já seria uma revolução porque leitores competentes têm muito mais condições de pensar por si mesmos, de dizer coisas para mudar a ordem estabelecida, de exercer a cidadania, de ter,enfim, sobre o real idéias cada vez mais elaboradas.

         As pesquisas mostram que não estamos conseguindo sequer dotar as crianças e jovens com habilidades mínimas de leitura. Quando será que vamos entender que leitor se forma lendo os mais variados textos, convivendo com LIVROS &LIVROS e não decorando regras e outras carqueramas? Vejo professores de 2ª e 3ª séries do 1º grau, preocupadas em ensinar separação de sílabas, dígrafos e outras inutilidades, em vez de estar deleitando a criança com a literatura, apaixonando pelos livros.Bem que uma menina da 2ª série, revoltada com tanta separação de sílabas, e ansiosa por livros de histórias, disse: ?as palavras são pra gente voar e não pra separar em sílabas!?

 

         A.O.R.- Por último gostaríamos que a senhora falasse um pouco mais sobre a leitura na família, nas escolas e nas bibliotecas. Gostaríamos de algumas sugestões neste sentido:

 

         E. ELOÍ- É na família que deveria iniciar a corrente de paixão pela leitura. Vemos famílias que primam por essa prática. E famílias que dão mais valor ao brinquedo eletrônico. Às vezes, a criança tem um quarto repleto de brinquedos caros e nenhum livro. Aí a causa é cultural mesmo, falta de valorização do livro e da leitura.  Por outro lado, a maioria das crianças brasileiras só tem acesso ao livro na escola, pois suas famílias, mesmo que o desejem, têm que priorizar a sobrevivência. Se a escola e a biblioteca pública falham nessa tarefa, as crianças não convivem com os livros e perdem a grande chance de se tornarem leitoras. Aí, cabe a pergunta de um menino de uma escola de Florianópolis:? Para que serve uma escola sem livros??

Creio que se pode afirmar que, uma criança que tenha crescido em ambientes de leitura, onde pais, tios, avós, primos, sobrinhos lêem, compram livros, dão livros de presente, falam em livros, trocam livros, vão às feiras de livros, vão aos Sebos e Livrarias,etc., tenha muito mais chances de se tornar uma grande leitora do que outra que jamais viu alguém lendo na sua frente.

         Sobre as bibliotecas considero importante enfatizar a constituição do acervo, a dinamização do acervo e o profissional qualificado para tal. Vale lembrar que não temos em nosso Estado a carreira de bibliotecário, agente da maior importância no que diz respeito à criação de leitores.

         Sobre a formação dos acervos das bibliotecas, tirando as felizes exceções, há uma prática corrente de dotar as bibliotecas com acervos de doação e/ou livros didáticos. As doações têm o seu mérito: muitas vezes, chegam obras raras, relíquias, livros bons, outros razoáveis. Mas, não pode ser a única via de dotação de uma biblioteca.. De vez em quando, os responsáveis pela biblioteca das escolas ou da biblioteca da cidade, do bairro etc. tem que ir às Livrarias e Feiras de Livros. A nossa literatura infantil e juvenil, por exemplo, é riquíssima, é uma área de excelência no país. No entanto, vejo professoras tendo que comprar do próprio bolso os livros nas livrarias, pois a escola não os têm. Recentemente, encontrei na Livraria Catarinense, em Floripa, uma alfabetizadora, comprando toda a coleção ?GATO e RATO? para suas turmas e pagando com suas parcas economias. Essa coleção era de se esperar que as escolas tivessem na biblioteca. Há livros esplêndidos para crianças, jovens e adultos, tanto informativos, como literários, que não estão nas bibliotecas das escolas e nem nas bibliotecas públicas. A atualização dos acervos das bibliotecas é uma questão fundamental a ser pensada. Não podemos mais aceitar acervos constituídos somente de doações ou comprados de vendedores que vêm com suas ?malas? á porta das escolas. As crianças não merecem menos que o ótimo, como disse Cecília Meireles. 

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NOTA IMPORTANTE- A turma de alunos: Jéssica Filipini Frigo, Júlia Bortoli, Leonardo Giongo Bonato, Marcelo Venite Rosa, Nathália Massignani, alunos da Oficina de Leitura, Interpretação e REDAÇÃO da ESCOLA de FORMAÇÃO CONTÍNUA ? ESCRITORA ELOÍ- estudaram a ENTREVISTA, texto jornalístico, e resolveram entrevistar a escritora Eloí Elisabete Bocheco por duas razões importantíssimas:

1ª ? É escritora de vários livros- reconhecida no Brasil e na Europa.

                                                       Foi Professora em Capinzal.

2ª ? Leva o Nome da Escola  de Formação Contínua, da Professora SCHIRLEY.

 

                  Com carinho: Professora  Schirley

                                             E ALUNOS.

 

 

        

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