Prof. Evandro Ricardo Guindani Universidade Federal do Pampa - Unipampa
É muito comum nos depararmos com pessoas julgando os mais desfavorecidos com diversos adjetivos e argumentos: vagabundos, não querem trabalhar, não se esforçam, só querem vida boa, só querem bolsa-família, etc...
Essas mesmas pessoas que julgam, gritam aos quatro ventos que sempre lutaram desde cedo para terem suas posses, sempre trabalharam desde criança, ou seus pais e avós trabalharam duro. E apegando-se a uma visão superficial e simplista, acreditam que riqueza se produz com trabalho e pobreza é uma consequencia ou castigo para quem não trabalha. Tiram suas conclusões baseadas em uma análise superficial sobre a vida de outra pessoa, sem ter conhecimento mais aprofundado de todo o contexto familiar, social e histórico da mesma.
Coloco aqui apenas dois exemplos de duas pessoas que conheço, na minha cidade, do meio oeste catarinense. Elas possuem a mesma idade e trabalharam desde cedo, mas vejamos como o contexto familiar fez a diferença.Vou usar nomes fictícios.
João é um senhor de 70 anos, vizinho de Antônio, também com 70 anos. João é filho de pais negros, descendentes dos chamados bugres, que habitavam nossa região. João trabalhou desde os 5 anos com seus pais nas roças dos pais e tios do Antônio. Antônio, um homem branco, filho de descendentes de italianos, também trabalhou desde os 5 anos nas propriedades de seu pai.
João possuía 8 irmãos e conta que comia carne de frango somente aos domingos, e no café da manhã era uma fatia de pão com um pouco de margarina.. Antônio possuía 9 irmãos e conta que comia carne todos os dias, e no café sempre tinha pão, polenta e salame à vontade.
Antônio começou a estudar com 8 anos, João não estudou porque tinha que ajudar o pai na roça. Em resumo, João foi fazer o ensino fundamental depois dos 60 anos de idade. Antônio conseguiu concluir o ensino médio e um curso técnico em contabilidade antes dos 25 anos de idade. Se tornou gerente administrativo de uma empresa. Com isso, conseguiu dar um bom estudo aos seus dois filhos que estudaram até o doutorado e hoje são servidores públicos federais, recebendo mais de 10 salários mínimos mensais. Os três filhos de João não concluiram o ensino médio e hoje atuam em serviço braçal, recebendo um salário mínimo mensal.
Tanto João como Antônio e seus filhos sempre trabalharam muito, a diferença é que nem todos trabalharam no mesmo lugar e nas mesmas condições. Enquanto João trabalhava para comer, Antônio trabalhava para ajudar seus pais a aumentarem sua renda e multiplicar as terras que receberam dos avós.
Portanto meu querido, se você tem uma vida boa e confortável, saiba que o mérito não é apenas seu, são vários fatores que interferem no sucesso e prosperidade. Você teve privilégios que o outro não teve! E isso é consequência de um modelo econômico injusto, responsável por concentrar riqueza nas mãos de poucas famílias!
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