Evani Marichen Lamb Riffel Pedagoga e Psicopedagoga

      Caro(a) leitor(a), a reflexão de hoje é inspirada em Manuel Bandeira "O Bicho." Se... É um texto imaginário ou fictício, não sei dizê-lo, porém sei sim, que serviu de inspiração para uma crônica do cotidiano de "muitos" e realidade desconhecida de "tantos!"

      Muitos cidadãos marginalizados, excluídos, e tantos "cegos"...

Leia... É impactante!

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

        Manhã cinzenta e fria do inverno vindouro...

       Da sacada nos fundos da minha casa um olhar lampeiro fixa o lixo, o próprio lixeiro!

      Pior, muito pior, fixa um homem arguto, magro, moreno pálido, em evidente desejo momentâneo de ser um homem invisível, a escapar do meu olhar tolhedor! Sim tolhido na surpresa de ser descoberto, a remexer nos sacos escuros do lixeiro.

      Queria eu, nesta hora, ser invisível em consciência de saber da fome de pão daquele homem, excluído em "ser." Não sei se prossigo... com o olhar invasor ou se passo para um largo olhar de quem vê e não enxerga, de quem enxerga e não vê!

      Por detrás da cortina, prossigo... o olhar para a estampa da exclusão, dos direitos roubados do cidadão que é gente. Sim, ele é gente, gente de nossa gente esquecido, vencido, desempregado, renegado...

      No lixo, no lixeiro, no homem, no olhar disfarçado, envergonhado, a cortina que separa, que padroniza, que rotula, que seleciona, que separa o lixo e os homens. E... Eu atrás da cortina!

       No lixo o homem separa, em ligeiro disfarce, um saco bonito que encontrou em meio ao papelão, plástico, metais e...

       Óh!... Sobras de comida para o almoço de ontem, de hoje em reserva para amanhã.  

       Ali, ali mesmo junto ao lixeiro é a refeição ligeira, voraz!

P.S.                                                                                                                                      

      Escrevo, na tela em branco do dia que começa, uma crônica do cotidiano, ou por ora, escrevo um texto qualquer, que comunique, denuncie, relate, delate, narre, informe, instrua, disserte...

 ...Sob inspiração de indignidade, calamidade, admiração, exaltação...De qualquer atitude ou ato que mereça ser pensado, repensado, passado a limpo, revisto, impedido ou...

...Expedido e lido, deglutido, para um mundo melhor, mais humano e igualitário, separando antes lixo que não é lixo e abrindo a cortina para o outro.

Dica: Leia é um texto  bíblico: "Parábola do Bom Samaritano"-

 (Lucas10:30-37)... Uma bela lição de Jesus, narrando o amor e o cuidado com o próximo, ou seja, com o outro.

(...) Jesus disse: "- Vá e faça o mesmo."