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1958, O COMEÇO DA GLÓRIA

1958, O COMEÇO DA GLÓRIA

A Copa de 1958 foi de arrepiar.

Ressabiada, depois que aquela bola rasante de Gighia calou o Maracanã, transformando em velório a grande festa pré-programada para comemorar o anunciado massacre sobre o ?fraco? Uruguai e o primeiro título, a Nação brasileira desconfiava de um novo fracasso, depois que, em 1954, desabamos diante da arrasadora locomotiva húngara, comandada pelos infernais Puskas, Kocsis e Czibor.

Eram, ainda, os tempos das transmissões radiofônicas.

A Rádio Bandeirantes iniciava suas narrativas tocando a marcha heróica, que mexia com os nervos da gente. No comando, um trio legendário ? Edson Leite, Pedro Luiz e Mário Moraes - criava um clima épico nos jogos que levaram o Brasil à primeira conquista da cobiçada Jules Rimet.

Herdeira de frustrações acumuladas desde os anos 1930, a Seleção de 1958 partiu para a Suécia desacreditada. Em 1934 e 1938, encantamos o mundo com uma constelação de craques, como Luisinho, Waldemar de Brito, Domingos da Guia, Perácio e Leônidas, em seleções que nos permitiam o luxo de jogar ora com a equipe titular, ora com a ?reserva?. Eram times vencedores. Mas, em 34, paramos no primeiro jogo, com a derrota por 3 a 1 contra a Espanha, e em 38, mesmo depois daquele inesquecível 6 a 5 diante da Polônia, acabamos perdendo o título.

Classificada depois de um dramático empate de 1 a 1, em Lima, e de uma magra vitória sobre o Peru, no Maracanã, com um único gol de falta (a famosa folha seca salvadora de Didi), da Seleção orientada pelo criticado  técnico Vicente Feola  esperava-se, talvez, um terceiro lugar ou, no máximo, um novo vice-campeonato.

O sorteio das chaves foi perverso para nós. Tínhamos de enfrentar três fortes equipes européias: Áustria, Inglaterra e União Soviética. Esta, embora estreante, vinha de uma deslumbrante conquista nas Olimpíadas de 1956 e contava com jogadores cuja fama era decantada pela imprensa européia, como o goleiro Lev Yashin, o centro-médio Igor Neto e o atacante Valentin Ivanov.

Começamos aquela epopéia com Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagallo.

Surpreendemos no jogo de estréia derrotando a Áustria por 3 a 0, com um golaço bissexto de Nilton Santos, apelidado de ?enciclopédia do futebol?.

Veio o segundo jogo, contra o decantado esquadrão da Inglaterra. Com fama de inexpugnável, o time comandado por Billy Wright, John Haynes e Derek Kevan nos aplicou um verdadeiro bombardeio, com dezenas de perigosos cruzamentos sobre a nossa área. Aliviados, encerramos o jogo com um empate em 0 a 0, que teve sabor de vitória. Para esse jogo, Feola fez a primeira de quatro substituições que se mostrariam decisivas. Trocou Dida, introduzindo Vavá, para jogar com dois centroavantes, ele e Mazzola. Foi um tiroteio, lá e cá, que só não acabou em muitos gols porque Gilmar e McDonald estavam em dia de graça.

Chegou o dia de enfrentar os campeões olímpicos. Feola fez outras três providenciais substituições, que deu ao time sua escalação quase definitiva: sacou do time o centro-médio Dino Sani, que havia assustado todo mundo ao driblar, dentro da nossa área, vários austríacos, demonstrando excesso de preciosismo, pelo santista Zito, não tão clássico, mas um craque, que marcava mais e jogava mais sério; tirou o rápido, mas burocrático, Joel, e pôs o genial Garrincha; e inaugurou Pelé (que, além de ter só 17 anos e nenhuma experiência internacional, foi para a Copa machucado) no lugar de Mazzola. Digo ?quase? porque, no jogo final, contra a Suécia, Djalma Santos entrou no lugar de De Sordi.

Aquele jogo fez o mundo encantar-se com o gênio primitivo e inocente de Garrincha. Foi depois de vários dribles pela direita que centrou, rasteiro, para Vavá marcar, quase sozinho, dois gols, na cara do ?aranha negra? Yashin.

Lembro da criativa manchete-trocadilho do Jornal ?Ultima Hora?, do Rio de Janeiro: ?Dois martelos de Vavá e a Rússia foi-se?. No dia seguinte, o Estadão abdicava da sua sisudez estampando, na capa, a foto em que Vavá marcava o primeiro gol da partida. Uma radiofoto, a primeira da história da imprensa brasileira!

Depois da nervosa partida com os russos, veio o cerco contra a defesa impenetrável do País de Gales, que só foi vazada uma vez porque tínhamos Pelé. Aquele gol antológico revelou a maturidade do craque, embora ainda adolescente.

O cruzamento da tabela nos armara uma tarefa que muitos consideravam impossível: parar o melhor ataque, daquela França de Maryan Wisnieski, Raymond Kopa, Roger Piantoni, Just Fontaine e Jean Vincent.

Ouvi o início daquela histórica transmissão da Bandeirantes, com os nervos à flor da pele. Será que vamos perder (mais uma vez?), pensava, remoendo as frustrações de 1950 e 1954.

O alívio veio quando, a um minuto e meio do primeiro tempo, Vavá fez o primeiro. Mas, logo em seguida, Just Fontaine, ele mesmo, o artilheiro de todas as Copas (autor de 13 gols, recorde que até hoje ninguém igualou!), empatava o jogo. Gilmar sofria o primeiro dos únicos quatro que chegaram às suas redes. Para surpresa geral, o Brasil passava fácil pela melhor equipe que a França pôs em campo em toda a história de seu futebol. De goleada: 5 a 2.

Na final contra a Suécia, veio aquele gol de Nils Liedholm logo no início, aos quatro minutos, para apavorar todo mundo. Didi foi ao fundo das redes, pegou a bola e colocou-a debaixo do braço. Caminhando, lentamente, para o centro do campo, o ?Príncipe Etíope? foi falando, de um por um: ?Calma, a gente vai encher de gols esses gringos!?. Foi a senha para uma nova e final goleada de 5 a 2, que começou com dois gols de Vavá, finalizando dois centros rasteiros, um de Garrincha, outro de Zagallo.

Finalmente, o Brasil ganhava uma Copa, a sua primeira Copa!

O inusitado foi que, em plena volta olímpica, Garrincha perguntou para Nilton Santos: ?Por que essa festa toda? Não vai ter segundo turno??.

 

LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA ? Governador (licenciado) do Estado

 

 

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