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Lendo com Você ? 034

Ana Schirley Favero

A   PROFESSORA

 

            Ela é uma estrela, mas não mora no céu. Ela é uma fada, mas não tem varinha de condão. Ela é uma agulha que fura o tecido da vida pra muita linha passar.

            Já sabem quem é ela?

            Ela trabalha de manhã, de tarde e de noite. Tem que se preparar bem antes de iniciar o seu trabalho e tem que ter um leque muito vasto de conhecimento pra responder as perguntas imprevisíveis que podem aparecer. Ela cuida mais dos filhos dos outros do que dos seus. Depois do horário oficial de trabalho tem que ter muitas horas livres pra corrigir, sem poder se divertir.

            Estou falando da dona Catarina.

            Eu sei que a dona Catarina, além dos seus três filhos de verdade, adotou mais um batalhão deles. Aquelas crianças que vêm dos bairros ou da zona rural ou aquelas que vêm apenas pensando na merenda, pois moram em favelas ou debaixo dos viadutos.

            A dona Catarina, além de ser professora, ensinar a ler e escrever, tem que ser mãe, tem que ser enfermeira, tem que ser advogada, tem que ser psicóloga e mais uma meia dúzia de coisas que é pras crianças não ficarem com a alma cheia de curativos.

            Outro dia, ela me disse que as crianças dela faltam bastante e que várias delas não aprendem a ler nem escrever como deveria!  E isso é muito triste, porque elas não conseguem descobrir as falas do Monteiro Lobato na boca da Emília e nem as idéias da fadinha e muito menos as aventuras da Bruxa Onilda.

            A dona Catarina nem precisou me falar que o salário de professora está muito baixo. Sabem por quê?  É que um dia desses, eu me encostei na porta da sala dos professores e...sabe..., a dona Catarina estava chorando.

            Ouvi, depois, os alunos mais velhos dizerem que ela tem medo de não conseguir pagar as contas.

            Então, achei que todo mundo precisava saber disso tudo.

            Como pode uma professora dar aula bem dada, se estiver preocupada, se vai ou não ter dinheiro suficiente pra pagar as contas ou comprar comida?

            Acho que se ela não puder pagar o aluguel ou seus filhos ficarem com fome, as aulas da gente vão ficar sem graça e tristes como é triste quem ganha um salário mínimo e não dá pra comprar nem um patinete.

            É, se as aulas não forem bem dadas, principalmente pra que as pessoas se tornem mais humanas, haverá muita gente morrendo por causa da exploração, da violência e da tristeza.

            AH! Não posso esquecer de dizer que a Cecília, aluna da professora Catarina, faz dois meses que não vem pra aula. Além de estar ajudando a mãe a fazer capina nos lotes e nas hortas, está vendendo pipoca no sinaleiro. Sabem, por quê? Para ajudar a comprar o leite e o pão de cada dia. Ela tem seis irmãozinhos e todos menores do que ela que conta apenas  com l0 anos.

            Há muitas ?Cecílias? que deixaram a escola. Há muitos ?Josés? que ainda não entraram na escola porque estão trabalhando. E há muitas ?Catarinas?se questionando sobre a missão e a condição de ser professora. Há muitas ?professoras? suplicando: ? volte, Cecília, você precisa aprender a ler e escrever.?

           

            Eu tinha mais um monte de coisas pra escrever, mas meu pensamento mandou eu ir com calma e esperar que se resolva primeiro a situação das professoras.

            É, porque eu ainda tenho esperança. Esperança de que a professora Catarina não seja apenas agulha para as linhas ordinárias. Eu tenho esperança de que a professora Catarina vai começar a sorrir e ser feliz por ser PROFESSORA.

                                                               

                                                            (autora- Ana Schirley Fávero)

 

 

            Este conto ? A  PROFESSORA? está inserido no livro ?FRAGMENTOS DA MEMÓRIA?, editado pela Associação Catarinense dos Professores, neste dia 15 de outubro.

            Retrata meu sentimento de respeito e de carinho que tenho pelos professores.

            Cumprimento todos os profissionais da educação pelo dia-a-dia do PROFESSOR.

                                    Da colega professora- ANA SCHIRLEY FAVERO.

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