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Lendo com você - 030

Ana Schirley Favero

           ?Lutar com palavras é a luta mais vã enquanto mal rompe a manhã.?

                                                                          (Carlos Drummond de Andrade)

 

                O que abordo, hoje, é de conhecimento de todos. Retomo com um objetivo: além de relembrar, apresento a seguir duas produções simples e espontâneas, mas que tem muita originalidade.

                Falo, então da  NARRAÇÃO.

                Narrar implica relato de fatos reais ou fictícios através de uma seqüência de acontecimentos possibilitados pelos verbos de ação, envolvendo personagens no tempo e no espaço.

                Constitui-se em narrativa :  o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula, o apólogo, a parábola, a carta, a piada, uma letra de música, uma poesia, uma história  em quadrinhos.

                Cabe dizer que em quaisquer das variações mencionadas devem constar os elementos indispensáveis à narrativa, essencialmente, o conflito, mesmo nos textos elaborados apenas através de diálogos.

                É dever nosso lembrar aos alunos que não se pode conceber o texto narrativo, desprovido de ação e que esta modalidade deve extrapolar a sua criatividade.

                Trabalhei  o gênero narrativo chamado Apólogo. Os alunos leram e fizemos a interpretação do  texto intitulado ? UM APÓLOGO? de Machado de Assis que fala da linha e da agulha.

                A conclusão, após conduzir a reflexão e a discussão, foi óbvia: o APÓLOGO  é a metáfora da condição humana.

                A seguir, foi proposta a atividade da  produção de um apólogo. Eis o resultado :

 

                                                               A  CABEÇA   E   O  BONÉ  ( Giordano V. Menegaz)

                Certo dia, indo para a escola, um garoto ficou com preguiça de pentear os cabelos e colocou o boné.

                Em seguida, começa uma antiga discussão:

                _ Eu sou melhor do que você! Você só serve para me carregar.

                _ Nada disso, você é que não presta, pois você não tem capacidade de criar! Você não pensa, eu penso. Você só é alguma coisa que as pessoas usam, quando tem preguiça de pentear os cabelos.

                _ Mas...

                _ Não tem ?mas?, eu sou muito mais esperto do que você, eu crio!!!  E você, a única coisa que você cria é caspa!

                _ É, mas se não fosse eu, você iria sair pelas ruas todo...

                Neste momento, o garoto tira o boné e joga-o em cima da cama.

                _ Viu como eu sou melhor! Você sai fácil, você é só um acessório, e eu não! Sou eu que tenho o poder de comandar o corpo. Você só me protege!  Eu recrio, reinvento o mundo .

                O  boné, humildemente, se recolheu no silêncio da verdade.

 

                                                 ********************

                                               O   DEDO   E  O  ANEL  ( Tuane Nora)

               

                Na ocasião de uma festa de aniversário, Mariana, uma menina muito vaidosa, foi até uma loja de jóias. Comprou  um anel de ouro com diamante.

                No caminho de volta para casa, o anel começou a falar com o dedo:

                _ Viu, seu dedo inútil, que valor alto eu tenho?!

                _ É, você tem um grande valor, reconheço, mas onde a moça ia pôr o anel, se não existisse dedo?

                _ Querendo ou não, sei que sou melhor.

                E a discussão continua...

                Até que o dedo diz:

                _ Me desculpe, anel, sei que você tem um preço em dólar, mas eu tenho um valor que não se paga  com moeda, sou insubstituível.

                Você passa de mão em mão, vão trocando, vendendo, cai da moda, e, eu, um simples dedo, parte integrante da mão de todo e qualquer ser humano, não caio da moda, não saio da mão, a não ser por acidente. Sou essencial, de valor único, imensurável. Posso acariciar as faces da vovó, apontar a direção certa do caminho e segurar uma nova vida. Você é uma coisa seca, sem vida, que só embeleza. Além do mais, eu sou um dedo indispensável e você apenas um acessório inútil.

                Os dedos da mão passam energia, calor humano, protegem e dão segurança.

                Finalmente, o anel se cala e o silêncio se estende sem fim...

                                                   **********************

 

                Acreditem, os textos se cruzam e fazem nascer novas produções. Únicas e singulares como estas. Parabéns alunos.

 

                                                               Com carinho- Profª Ana  Schirley  Favero 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                  

               

 

               

 

 

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