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Colunista

Reconheça seu privilégio Prof. Evandro Ricardo Guindani

Você já deve ter ouvido frases como: “Os pobres só reclamam, devem fazer como eu, trabalhar e conseguir ter sucesso!” Essas frases são ditas por pessoas que se acham no direito de julgar o outro sem conhecer a realidade e o contexto daquela pessoa. Muitas pessoas que criticam as ações sociais ou cotas para entrar na universidade não reconhecem que foram privilegiados. Isso mesmo, o privilégio é algo que as vezes fica escondido, não aparece muito. Muitos de nós nascemos com privilégios e só teremos consciência desse privilégio quando nos deparamos com a história de outras pessoas.

Um dos grandes privilégios na sociedade moderna e principalmente brasileira, é ser branco. Mesmo que você tenha nascido em família pobre, se você é descendente de europeu, você terá, mais portas abertas do que um negro teria, infelizmente. É isso mesmo, e o que falo não é discurso, é fato. Basta você ver as estatísticas, e os constantes casos de racismo que assistimos todos os dias.

Não adianta você querer justificar seu sucesso econômico ou profissional apenas com o discurso do trabalho. Não é apenas “a vontade e disposição para trabalhar” que abre as portas, e na mesma lógica, muitas portas são fechadas em função da cor, o gênero e orientação sexual de quem busca uma vaga de trabalho. Homens brancos e heterossexuais são privilegiados quando o assunto é promoção e ganho financeiro no mundo do trabalho.

O IBGE divulgou, em 2022, que a renda média de trabalhador branco é 75,7% maior do que de pretos, mostra a cor de pele como fator determinante na diferença dos salários dos trabalhadores brasileiros.

Eu quero dar o exemplo de minha trajetória pessoal. Sou neto e bisneto de descendentes de italianos proprietários de terra. Minha família não é rica, mas nunca precisei trabalhar, quando adolescente, para ajudar nas despesas de casa. Com 14 anos fui para o seminário, e na mesma época, em 1989, tinha muitos coleguinhas, pobres e negros que também queriam ir para o seminário, porém não foram, porque tinham que ajudar a sustentar a casa com seu trabalho. Aí começou meu privilégio. Sim, me esforcei nos estudos, mas o que fiz foi simplesmente aproveitar meu privilégio. É como receber um cavalo encilhado para começar a trajetória, enquanto muitos receberam um cavalo xucro. Esse é o exemplo mais fácil de entender. Sou um homem branco, heterossexual e com certeza tive mais portas abertas do que mulheres, homossexuais e negros da minha idade e até na mesma condição social.

Então meu querido e minha querida, antes de julgar o outro, de ficar criticando os pobres que moram nas favelas, é melhor você olhar para si mesmo e reconhecer que foi um privilegiado.

Se quiser aprofundar mais esse assunto, leia o meu livro intitulado: “O novo sucesso: uma crítica à meritocracia”, publicado pela Editora Appris.

O livro está à venda no site da Editora Appris.

Link: https://editoraappris.com.br/produto/o-novo-sucesso-uma-critica-a-meritocracia/

 

Prof. Evandro Ricardo Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa

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