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O machismo presente na Bíblia Por: Evandro Ricardo Guindani

Sou bisneto, neto e filho de católicos fervorosos, fato este que, consequentemente, me fez sonhar em ser padre. Este sonho foi responsável por me manter no seminário por 8 anos, até meus 22 anos quando consegui ter coragem e maturidade para sair da instituição.

Depois disso, aos poucos fui substituindo a crença religiosa pelo interesse no conhecimento religioso, ou seja, fui substituindo a fé pela razão. Ao invés de crer eu busquei conhecer, duvidar e problematizar. Isso me levou a realizar um Mestrado em Ciências da Religião no início dos anos 2000. Desde então, como professor de Filosofia, busquei realizar vários cursos na área da história das religiões e arqueologia bíblica. Nunca me contentei em apenas crer, eu gosto de conhecer. E o conhecimento pressupõe dúvida e curiosidade, jamais se contenta com crenças em verdades recebidas.

Para falar sobre esses assuntos, nesta coluna, sempre me fundamentarei em pesquisas científicas, feita por especialistas da área. Hoje quero falar sobre um tópico da tradução da Bíblia, e demonstrar como este livro é muito complexo, que jamais deve ser tido como uma verdade, mas sim, como um rico material de estudo, inclusive para você poder ter uma fé mais crítica, se é que isso seja possível.

Você sabia que antes do chamado “Yahweh” ou “Deus” como chamamos hoje, existia uma deusa, muito mais cultuada no mundo antigo? Isso mesmo, é o que explica a Doutora em Teologia, Angela Natel no seu artigo: “O Yahweh estrangeiro e o Yahweh ciumento: duas Divindades a partir dos textos antigos”.

Segundo Angela, Asherah, Deusa da fertilidade, era cultuada entre os cananeus. A imagem da deusa era representada da seguinte forma. Seu tronco e pernas possuíam formato de um grande pilar, um poste, acima disso já estavam grandes seios e a cabeça da Deusa, que representava a grande mãe, que amamentava e que simbolizava a firmeza, a estrutura daquele povo.

Segundo Angela, ela foi literalmente apagada da Bíblia quando houve a tradução da mesma. Os textos originais que apresentavam o nome da Deusa (Asherah) foram duramente alterados na tradução. Por que? Porque os tradutores da Bíblia queriam de qualquer forma construir o monoteísmo, ou seja, nos passar a ideia de que teríamos apenas um único Deus.

Diante disso, cito aqui alguns exemplos. Existem 40 referências ao nome de Asherah no texto bíblico hebraico. Veja só o que ocorreu: nas diferentes traduções do hebraico para o grego e latim, Asherah foi traduzida para “poste, ídolos”, também como “imagem de bosque”, “ídolo de madeira”, “árvore sagrada”. O nome da Deusa foi literalmente apagado. E quando aparece era vista apenas como uma “deusa”, ou seja, existiria apenas um “Deus verdadeiro”, com “D” (maiúsculo), que seria Yahweh.

É por essas evidências que precisamos ter muito cuidado em acreditar naquilo que é transmitido pelas diferentes religiões e pregado nas igrejas. Sempre precisamos entender que tudo foi construído com base em interesses de homens. Cuidado com aquilo que te fazem acreditar!

Prof. Evandro Ricardo Guindani – Filósofo, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Pampa - Unipampa

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