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MONTEIRO LOBATO - O CRÍTICO DE ARTE ANTIMODERNISTA

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Crítico de Arte

Em primeiro lugar, Monteiro Lobato é amplamente conhecido por seu papel como escritor e editor, especialmente no campo da literatura infantil, mas uma faceta menos explorada de sua trajetória é a de crítico de arte. Sua posição antagônica ao modernismo no Brasil, sobretudo em relação às artes plásticas, reflete um confronto entre a tradição estética e as novas tendências que emergiam no início do século XX. Lobato tornou-se, de certa forma, arauto de ponto de vista conservador que rejeitava a experimentação e a ruptura com os cânones clássicos, propugnando  arte mais ligada ao realismo e à imitação da Natureza.

No entanto, o episódio que melhor ilustra essa sua faceta crítica foi a polêmica gerada após a Exposição de Anita Malfatti, em 1917. Em um artigo intitulado "Paranoia ou Mistificação?", publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, Lobato condenou a obra de Malfatti, que representava o ponto de encontro das influências europeias do expressionismo e do futurismo com a arte brasileira. A crítica de Lobato era feroz e direta: ele via naquelas pinturas não uma manifestação genuína de talento, mas uma imitação acrítica de modismos estrangeiros, que, em sua visão, deformavam a realidade em nome de uma estética "doente".

Outrossim, para ele, a arte deveria ser compreensível ao público e comunicar-se de maneira clara e objetiva. Ele acreditava que as inovações do modernismo resultavam em um distanciamento da realidade, algo que considerava prejudicial. Sua visão era profundamente enraizada em uma concepção de arte utilitária e nacionalista. Ele defendia uma arte que pudesse contribuir para o desenvolvimento cultural e social do país, em vez de uma arte que, em sua opinião, se voltava para as elites e era incompreensível para a maior parte da população.

O modernismo, por outro lado, representava uma tentativa de romper com o academicismo e buscar novas formas de expressão. Para artistas como Anita Malfatti e mais tarde Tarsila do Amaral, o modernismo era uma forma de libertar a arte brasileira das convenções rígidas e engajar-se com as vanguardas internacionais. No entanto, Lobato via nessa tentativa de diálogo com as correntes estrangeiras uma ameaça à autenticidade da arte nacional, o que o levou a se opor veementemente ao movimento.

Por conseguinte, essa oposição culminaria em seu isolamento das gerações modernistas que despontariam na década de 1920, principalmente após a Semana de Arte Moderna de 1922, evento que consolidou o modernismo no Brasil. Enquanto artistas como Mário de Andrade e Oswald de Andrade promoviam uma nova forma de ver e representar o Brasil, Lobato mantinha-se firme em sua convicção de que a arte deveria seguir os princípios do realismo e da representação fidedigna.

A hostilidade de  Lobato ao modernismo, portanto, pode ser entendida dentro de um contexto mais amplo de transformações culturais e políticas que marcaram o Brasil da época. Se por um lado, o modernismo foi uma tentativa de repensar a identidade nacional e de atualizar as formas de expressão artística, por outro, Lobato representava a voz daqueles que temiam a ruptura com o passado e a adoção de novos paradigmas. Seu conservadorismo artístico estava alinhado a uma visão mais ampla de mundo que privilegiava a ordem e a continuidade, em oposição à experimentação e à mudança.

Conquanto a sua posição antagônica ao Modernismo, é inegável que Lobato desempenhou um papel fundamental no debate cultural do período. Sua crítica à arte moderna abriu espaço para discussões sobre o papel da arte na sociedade e sobre o que deveria ser considerado "arte brasileira".

Embora suas opiniões tenham sido amplamente rejeitadas pelas gerações seguintes, especialmente pelos modernistas, elas são importantes para compreender as tensões que marcaram o desenvolvimento da cultura brasileira no início do século XX.

Em epítome, Lobato pode ser visto como um crítico de arte antimodernista não apenas por sua rejeição ao modernismo como estilo artístico, mas por sua defesa de uma arte mais tradicional, comprometida com os valores realistas e nacionalistas.

Por final, o seu “approach” em Estética, posto que em desacordo com os movimentos vanguardistas de sua época, oferece uma perspectiva valiosa sobre os debates que moldaram a arte brasileira no período pré-modernista e na transição para o Modernismo.

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