Quando você afirma: “eu tenho fé que conseguirei ser aprovado na prova”, você está assumindo que não tem certeza mas acredita que dará certo. Você só tem fé porque não tem certeza. Se tivesse certeza, não precisaria torcer ou acreditar. Sendo assim, a própria fé em “Deus” ou em alguma divindade também revela que você não tem certeza que ele está lá ou que irá te auxiliar.

Ter fé, incerteza ou dúvida, são faces da mesma moeda. Colocar fé em algo, é apostar em um futuro incerto. Ter fé é ter esperança que vai dar certo, porém sem nenhuma certeza.

Ter fé é um ato de otimismo, de coragem, de aposta no escuro. Você não sabe o que está lá, mas você acredita que pode haver algo. Por isso, a fé em forças sobrenaturais, sejam elas provenientes de qualquer religião ou crença, é um ato que expressa a fraqueza humana diante do futuro incerto.

Sou filho de uma família católica, seminarista por 8 anos, e após deixar o seminário, parei de frequentar a igreja, optando por me dedicar a estudos voltados às ciências da religião. Dentro desse campo, tenho me aprofundado em filosofia e história da religião. O filósofo alemão Ludwig Feuerbach, escreveu no século XIX, o livro “A essência do cristianismo”. Nele o autor faz uma afirmação: “o homem criou Deus à sua imagem e semelhança”. O filósofo defende a tese de que o “Deus” dos cristãos não é nada mais do que uma projeção de suas necessidades.

Quanto mais fraco a pessoa se sente, mais ela precisa de um “Deus” forte e poderoso. Em lugares mais pobres, proliferam igrejas por todos os lados. Quanto mais a pessoa se sente impotente, mais potente tem que ser seu “Deus”. Por isso muitas lideranças religiosas enaltecem o perigo do “demônio”. Quanto mais medo a pessoa sentir, mais ela precisará de coragem, mais precisará de um poder que lhe dê forças para enfrentar o medo e o desafio.

O objetivo de muitas igrejas é convencer a pessoa de que ela está sob ameaça e que ela precisa de ajuda, é convencê-la de que sozinha ela não consegue. O objetivo da igreja é tornar a pessoa dependente de uma força superior. A igreja se coloca como mediadora dessa força, por meio do pagamento do dizimo ou da frequência aos seus cultos, missas e rituais. A pessoa assume sua fraqueza, ao mesmo tempo que aposta, por meio da fé, em uma força superior, seja ela “Deus” ou qualquer outra divindade.

Resumindo, a fé em um poder superior é proveniente de uma fraqueza individual bem como, da incerteza do futuro. Eu penso que as pessoas não conseguem aceitar a incerteza e descobrir outros caminhos para ter sua própria força, por isso têm fé em “Deus”? E você, o que acha?

Prof. Evandro Ricardo Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa

São Borja-RS