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Cristianismo e o “Jesus histórico”

Prof. Evandro Ricardo Guindani Universidade Federal do Pampa - Unipampa São Borja-RS

Durante 8 anos fui seminarista e sou muito grato aos padres pela formação que recebi. Em 1997 deixei a instituição Igreja e fiz a opção pela instituição universitária. Por outro lado, sempre gostei de estudar e me aprofundar em temas ligados à religião.

Durante toda a minha vida participei de muitas missas, e sempre percebi que Jesus foi enclausurado numa divindade cheia de dogmas e tradições. Sendo assim, ouvia de muitos católicos o seguinte: “Não posso imitar Jesus porque ele é ´Deus´, é perfeito, nós somos pecadores”. O que isso significa? Significa que Jesus é para ser adorado e não seguido, ele deixa de ser um exemplo para se tornar uma divindade para quem eu peço muitos favores por meio da prece.

Foi isso que presenciei durante mais de 23 anos frequentando a igreja, pessoas indo à missa para “cumprir obrigação”, para fazer pedidos, ou para agradecer. Adoravam Jesus no sacrário. Depois da missa, viravam as costas para a Igreja e continuavam sendo a mesma pessoa, não mudavam nada. Centenas de missas, natais, páscoas e nenhuma mudança de atitude...

Penso que uma das causas disso é a extrema divinização de Jesus. Se esse pobre homem de Nazaré fosse visto como um simples ser humano, seria bem melhor! O teólogo Leonardo Boff falou o seguinte: “Jesus foi tão humano que o chamaram de Deus”.

Gosto muito de estudar a vida histórica de Jesus, e aprofundando esses estudos dentro da ciência histórica, é possível compreendermos como se deu esse processo de divinização de Jesus. O historiador Hilário Franco Jr no seu livro “A Eva barbada” explica como se deu a construção desse “Jesus, filho de Deus”. Há, segundo o autor, uma construção mítica que segue a mesma trajetória dos heróis míticos da antiguidade. Para isso o autor cita a pesquisa do mitologista Joseph Campbell que escreveu “O herói de mil faces”.

Nestes dois livros, os pesquisadores explicam como o nascimento de uma virgem atribuído a Jesus, faz parte de uma tradição antiga, já atribuída a outros reis e heróis. A narrativa bíblica que vai desde o nascimento até a suposta ressurreição de Jesus, se iguala à narrativa dos heróis míticos da antiguidade. Todos nasciam de uma virgem, morriam por uma causa, por um povo e posteriormente surgia a crença de sua ressurreição ou retorno ao mundo terreno em forma de espírito.

Qual a lição que devemos tirar desses estudos, principalmente para o Natal? Entendermos que a experiência religiosa, a prática religiosa não pode ser fundamentalista, fanática, apegada a “verdades” construídas pelos homens nas diversas religiões. A Bíblia se trata de um conjunto de textos, escritos e selecionados por homens, sempre vinculados aos impérios dominantes.

Diante disso, procure viver uma experiência religiosa que o torne mais humano, mais ético, com mais empatia, compaixão ao outro diferente, menos racista, menos preconceituoso!

Fique sempre atento, pois há uma grande diferença entre os personagens históricos - sejam eles Jesus, Buda – e o que as religiões e igrejas fazem com eles! 

Prof. Evandro Ricardo Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa

São Borja-RS

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