Vivemos numa época de grande avanço científico e tecnológico, porém, muitas pessoas ainda se apegam às crenças, sejam elas religiosas ou não. Acreditar é bem mais fácil, cômodo e simples do que conhecer. O conhecimento dá mais trabalho mental, exige maior esforço, mais energia e paciência. Para acreditar basta você confiar naquele que te repassa a informação.

Vivemos na era da praticidade, imediatismo, agilidade, rapidez, busca por resultados rápidos e econômicos. Diante disso, a crença se encaixa perfeitamente. Você não precisa ter o trabalho e o tempo de pensar e refletir muito, de ler, se aprofundar. Você confia naquele que te conta e automaticamente absorve aquela informação sem nenhuma problematização e questionamento.

Aquele que busca conhecer, se aprofundar, refletir, ponderar, questionar passa a ser mal visto, como chato, “do contra”, etc... Aderir às crenças é ser prático. Em todas as organizações, instituições existem crenças, que são conhecimentos transmitidos, copiados, replicados e repassados sem questionamento de quem os recebe.

Assim como vivemos na era do consumismo de produtos, também temos o consumismo de crenças que nos são transmitidos por meio de memes, mensagens curtas, vídeos curtos, que não exigem muita reflexão e pensamento.

Estamos regredindo na nossa evolução cerebral?

É nesse contexto que cresce e se fortalece o fanatismo e fundamentalismo seja moral, político ou religioso. Igrejas lotadas por pessoas que simplesmente acreditaram em tradições repassadas historicamente pelos familiares e instituições religiosas. Membros assíduos e fanáticos de igrejas até se debruçam sobre o estudo, porém, limitados às orientações das tradições repassadas pelas lideranças e autoridades dessas organizações.

Em função de minha trajetória pessoal, pelo fato de ter sido seminarista e “quase padre”, depois de ter me tornado professor e pesquisador, tenho buscado me aprofundar no conhecimento científico sobre as religiões. Estou fazendo um curso de História da Bíblia, ministrado por historiadores e arqueólogos. Pesquisas arqueológicas demonstram, por exemplo, que a Bíblia está repleta de alegorias e lendas. Porém, este curso exige que eu dedique horas para leitura de textos vídeo-aulas extensas. Somente assim estou conseguindo desconstruir minhas crenças recebidas na igreja desde crianças. Os padres e pastores no altar apenas nos transmitiam como verdades, fatos bíblicos e nós recebíamos passivamente.

Você pode sim ter sua prática religiosa, porém nunca permita que sua crença paralise sua linda e maravilhosa habilidade de conhecer, questionar e refletir.

Prof. Evandro R Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa