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A SABEDORIA DOS LIVROS

  • - Professora Evani Marichen Lamb Riffel

Professora Evani Marichen Lamb Riffel

Caríssimo(a) leitor(a), contemplando o tema leitura x leitor, a introdução inicial, que é instigativa, sutilmente lembra QUEIRÓS, Bartolomeu Campos:

      "...Existe pois, ação educativa maior que esta, de formar leitores?"

Do mesmo autor vem a afirmação de que:

      "...Ler é inteirar-se de outras proposições, é confrontar-se com outros destinos, é transformar-se a partir da experiência vivenciada pelo outro e referendada pelo fruidor."

      Formar e informar leitores é mediar ação de leitura anterior e posterior, em contexto narrativo, informativo, instrucional, ficcional ou verídico, dos mais diversos gêneros, na função social comunicativa ora oral, ora figurativa em imagens, ora escrita. Sejam seus suportes: livros, revistas, jornais, gibis ou telas, são insubstituíveis e cumprem finalidade distinta na formação leitora. Não subestimando jamais a oralidade, numa bela história contada e ouvida, desde a mais tenra idade e, precocemente ouvida ainda no ventre materno.

      Conta uma antiga história, que uma mulher grávida, fraca e doente, foi única numa plateia, a ouvir uma história ofertada por um exímio contador e, pela condição orgânica, ela adormeceu durante o conto. O rebento, porém, revelou estar atento por movimentar-se muito, supostamente por este estímulo.

      Se, supostamente, pais informados do valor qualitativo e quantitativo desta leitura, perguntassem ansiosos, para um especialista doutorando da área da linguística, quantas histórias orientaria contar para os pequenos para que se enriquecesse abundantemente o universo literário infantil, ouso usar, como sugestão prévia, uma metáfora milenar bíblica, usada por Jesus, respondendo à Pedro sobre quantas vezes perdoar: o simbólico

 7 x70, enfim, livros literários de qualidade, infinitamente, sem méritos a quantificar.

      Mas... Como gostar de ler sem ler? Como gostar de jogos de bola, sem ter uma bola para jogar? Como gostar de ouvir boas histórias, se rareiam as oportunidades de ouví-las, ou lê-las qdo leitor a "ser" proeminente, autônomo, formado?

      ...Vitória, vitória brindo aqui o reconto, em resenha, da bela história:

"A Sabedoria do Califa" (Ilan Brenman)

      ...Imagine...

      ...Um morador de rua sem dinheiro para pagar as refeições do dia, ou ora, por aquela refeição que nem se concretizava.

      Bagdá! Tempos prósperos! Época em desígnios de prosperidade, como capital de um grande império. Porém, havia aquele, como em qualquer grande cidade, há também os pobres, e nesta Bagdá próspera o mais pobre dos pobres era conhecido como Hachid. O pobre vivia de migalhas de pão seco que carregava nos bolsos. Embora magro esquálido parecia estranhamente saciado, apesar de comer só pão seco, aparentava banquetear diariamente.

      Tâmaras, damascos, mel, grãos torrados, ingredientes da técnica gastronômica, que Hachid exercitava matinalmente no Mercado Central de Bagdá. Nariz empinado a inspirar aromas exalados de iguarias deliciosas. Hachid, satisfeito, após o ritual ía embora e treinava a digestão da tentadora refeição.

      (...)

      Aconteceu, que num belo dia, Hachid andava pelas estreitas ruelas de Bagdá e um cheiro irresistível o conduziu até a porta de um restaurante. De fora, bem próximo da entrada, pôs-se a sorver o delicioso aroma em belicosa refeição.

      Ensaiando a direção a evadir-se dali, alguém pousa uma pesada mão em seu ombro de um ósseo rijo, e diz:

      -O Sr. acabou de fartar-se no meu restaurante e deve pagar antes de ir.

      O mendigo a gaguear disse: Eu, o o quê? Não sei do que fala Sr., agora em Bagdá pagamos pelo que cheiramos?

      -O Sr. Ficou parado a cheirar todos os pratos do dia e de ingredientes caríssimos.

      -Cheirar comida é proibido?

      - Não é proibido, mas se todos aqui viessem só para cheirar de graça, os pratos que preparo com finas iguarias, seria falência na certa.

      Hachid incrédulo, disse que não pagaria um dinar sequer.

      O dono do restaurante ficou furioso, chamou um guarda, e exigiu resolver a situação na presença do Grande Califa Al- Mamun.

      O Monarca abria espaços na agenda para julgar casos extremos. O guarda os conduziu à enorme biblioteca, visto que era considerada na época, uma das maiores do mundo, que era sabido de todos que o grande Califa era apaixonado por livros. Mandava buscá-los até no fim do mundo. O sábio monarca tinha uma equipe de tradutores que traduziam obras em grego, persa, sânscrito, siríaco...para o árabe.

      O dono do restaurante minuciou os fatos para o monarca, que ouviu atentamente, pedindo que julgasse o fato em seu favor. Hachid, temeroso, em sua humildade, confirmou tudo.

      O Califa olhou firmemente para os dois e depois caminhava de lá para cá, ía até a farta estante de livros e dela retirava um a um, consultava, cheirava e recolocava no lugar.

      Finalmente ele falou: -Minha decisão está amparada nos inúmeros livros que li, sobre a natureza humana.

      Hachid, perplexo, ouviu o veredito final: -O senhor consumiu o aroma da comida deste homem honesto e justo, portanto pagará pelo que cheirou.

      O pobre Hachid tomou coragem e falou: -Grande Sr. Dos homens, o pouco dinheiro que tenho é fruto da minha mendicância.

      -Qual seria o valor de que dispõe?

      Num saquinho imundo Hachid apresentou ao Califa 5 dinares.

      O Califa disse então:-Creio que o dono do restaurante se sentirá pago com 5 dinares.

      -Sim, sim! Disse ele com olhar malicioso e sovina.

      Al-Mamun observou o triste manto a nublar o olhar de Hachid.

      Quando o Grande Califa estendeu a mão com as moedas, o avarento quis pegá-las, mas ele rapidamente pôs a mão em concha perto do ouvido do homem e começou a chacoalhar bem forte as moedas.

      -O Sr. está ouvindo o tilintar dos 5 dinares?

      -Sim, sim, majestade!

      -Então se considere pago!

      -Não compreendo, majestade!

      -O Sr. cobrou pelo cheiro da sua comida, nada mais justo do que Hachid pagar com o tilintar dos 5 dinares,

      Hachid recebeu seu dinheiro de volta e o grande monarca ainda ofereceu um lauto banquete para o pobre mendigo saciar sua fome crônica.

      (...) Nesta noite, Hachid voltou tarde para a ruela de Bagdá onde sobrevivia!

P.S. Seja leitor(a) assíduo(a), seja um pouco como o Grande Califa Al-Mamun: privilegie e desfrute da sabedoria dos livros!

*Conto: Segundo o Aurélio, é um gênero textual narrativo ficcional e apresenta um conflito num universo fantasioso.


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