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A função de “Deus” Prof. Evandro Ricardo Guindani

O grande filósofo alemão Ludwig Feuerbach, em sua obra intitulada: “A essência do cristianismo”, de 1841, escreve que “Deus” foi criado à imagem e semelhança do homem. Para ele, o homem, incapaz de lidar com seus grandes problemas, angústias e fraquezas bem como com a dor e a morte, projetou em um ser fora de si, uma força superior a si próprio. E a essa força, o homem deu o nome de “Deus” ou ser superior.

O homem então, atribui a Deus, a causa de suas vitórias, superações e curas. Quando é derrotado pela dor e pela morte culpa o diabo ou a fraqueza da própria fé em Deus.

Feuerbach é muito atual, pois percebemos claramente hoje, como as pessoas responsabilizam ou culpam “Deus” e “Diabo” pelos seus fracassos ou vitórias. A aposta no futuro também é confiada a Deus. Quando surge a incerteza de algo, surge também a afirmação: “se Deus quiser vai dar tudo certo”.  Aqui, a função de Deus está em transferir para outro ser a própria responsabilidade ou incapacidade de se responsabilizar por algo que acontecerá no futuro. A incerteza sobre o futuro é algo inerente à condição humana, por isso, para preencher essa incapacidade humana, surge a figura de Deus.

Quando o indivíduo está diante de um ente querido doente, ele afirma que Deus vai curá-lo, por quê? Porque o indivíduo se sente impotente, não consegue fazer algo que esteja ao seu alcance. Deus aqui assume a função de uma esperança na cura. Diferentes pessoas, de diferentes religiões e crenças atribuem essa função da esperança a diferentes divindades, seres e forças. O católico tem até mesmo opções de santos, o evangélico usa a própria Bíblia como um objeto onde busca esse poder divino, o praticante da umbanda, candomblé também possui seus orixás... Enfim, a questão é que todas essas diferentes divindades, assumem a mesma função.

Esses dias li um adesivo em um carro de luxo com a seguinte afirmação: “Foi Deus que me deu”. Deus aqui serve para justificar aquela conquista em um país altamente desigual, onde muitos passam fome. Deus assume o papel da justiça, ou seja, é justo e merecedor que eu comprei este carro de luxo.

Uma pessoa não é aprovada em uma seleção de emprego e se consola, afirmando que não era a vontade de Deus. Deus assume a função de justificar tal processo seletivo que muitas vezes pode ser marcado por muita injustiça, racismo e preconceito, como ocorre em muitas empresas e instituições.

Enfim, quando não queremos ou não conseguimos explicar algo, quando não temos força, nos sentimos injustiçados, penalizados, culpados, premiados, buscamos algo fora de nós para justificar, responsabilizar, consolar e amenizar a dor.

O medo, a insegurança, a impotência em resolver problemas, o desespero, a angústia e até mesmo o desequilíbrio emocional diante do sofrimento e das dificuldades são fatores que conduzem milhões de pessoas aos templos religiosos. Muitas pessoas desenvolvem obsessões pela oração compulsiva, tamanho é o medo e a angústia proveniente de doenças emocionais. Em muitos casos, se a pessoa tivesse condições de pagar um bom terapeuta e psiquiatra, teria menos necessidade da religião.

Com isso não quero reduzir a religião a uma simples projeção, ela é bem mais complexa, e muitas pessoas conseguem fazer uma experiência religiosa profunda e maravilhosa, que fundamentam o sentido da própria vida.

Essa minha reflexão é apenas para você refletir qual o papel que a religião ocupa em sua vida!

Prof. Evandro Ricardo Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa

A religião fortalece o ser humano?
Prof Evandro Guindani
Filósofo, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação Anterior

A religião fortalece o ser humano? Prof Evandro Guindani Filósofo, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação

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