Prof. Evandro Guindani é Graduado em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação.

Quando você tem fé, você também tem incerteza, do contrário não precisaria ter fé, precisaria apenas esperar algo acontecer. A fé é uma atitude emocional que pode até fornecer a ilusão da “certeza” para quem acredita. A pessoa tem fé que seu deus está com ela, isso lhe dá uma certa segurança e confiança, mas apenas no campo imaginário e afetivo. Por isso que o fanático ou fundamentalista religioso não aceita reflexões críticas, porque ele está mergulhado na emoção de sua crença. A fé e a crença tentam substituir a dúvida que faz parte da nossa condição humana.

A dúvida é algo fundamental para o crescimento e evolução da humanidade e de cada indivíduo. A dúvida é a responsável pela evolução científica e tecnológica. A dúvida move o ser humano para o mistério da existência, para as grandes perguntas sem respostas: o que sou? De onde vim? Para onde vou depois da morte? Não temos respostas racionais para essas perguntas, por isso realizamos novas invenções, novas reflexões, novas teorias, sempre buscando resposta para essas três perguntas. É a dúvida que nos movimenta e nos faz progredir e evoluir como humanos.

Infelizmente a religião e as igrejas querem dar respostas às dúvidas, querem apagar essa fundamental e relevante dimensão da condição humana. No lugar da dúvida, as religiões colocam a fé em uma certeza imaginária. Uma certeza repleta de interpretações fundamentadas em intenções de dominação e controle.

Filósofos como Feuerbach no século XIX, protestaram contra esse desserviço da religião à evolução humana. Como professor de filosofia e pesquisador das religiões entendo que a religião poderia ser o espaço de mergulho no mistério da existência e não na busca de respostas prontas. Veja a violência da catequese ou das escolinhas bíblicas, que enfiam crenças prontas na cabeça de nossas crianças, ao invés de ensiná-las a mergulhar na dúvida do mistério.

Existe algo mais belo do que você se deparar com o mistério da existência? Com a dúvida que nos une? Isso nos torna mais humildes, isso contribui para combatermos o fundamentalismo, o fanatismo moral e político.

Aceitar a dúvida é aceitar que você não é superior a ninguém e a nada, que você é um minúsculo mortal que precisa de tudo e de todos para sobreviver. Ao invés disso vem a religião e diz que você é filho de um “deus” todo poderoso que foi pai de Abrãao, sei lá mais quem, que tem um povo eleito, que tem seus preferidos.... E isso promove o fundamentalismo, a xenofobia, o preconceito, a intolerância com outros povos, religiões e etnias.

Pode ter sua fé, mas não deixe que a incerteza própria da fé seja substituída por crenças impostas e construídas pelas religiões e igrejas, quase sempre aliadas às forças políticas e poderosas do mundo.

Prof. Evandro Guindani é Graduado em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Educação.