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'Deus' e a política

Prof. Evandro Ricardo Guindani



Quando você ouve a palavra "Deus", geralmente o associa à imagem do bem, da paz, da alegria, da saúde, de coisas boas. A ideia dessa divindade absoluta e superior, presente com diferentes nomes em diversas religiões é muito usada para representar a defesa do bem contra o mal, demônio, diabo e outros nomes que possui.
A ideia de "Deus", portanto está também associada ao poder, à força, à luta do bem contra o mal, etc... A realidade é que a ideia de "Deus", historicamente, sempre foi apropriada por grupos religiosos que fundaram igrejas, se dividiram, sempre cada uma defendendo estar falando em nome desse "Deus". Para delimitar a reflexão vou me deter especificamente às religiões cristãs que historicamente, pelo menos na América, foram dominantes, em função da colonização europeia.
Herdamos da filosofia grega, mais precisamente do filósofo Aristóteles um paradigma da autoridade baseada na hierarquia dos seres. A "cadeia dos seres" de Aristóteles apresentava a organização da natureza com base numa hierarquia. Segundo ele os seres poderiam ser classificados a partir do mais inferior (minerais) ao mais superior (Deus). Na Idade Média, a filosofia cristã, por meio de seus teólogos, fez uma adaptação dessa cadeia dos seres, nos legando a estrutura da autoridade do poder terreno que provinha de Deus. Nesta ordem hierárquica, depois de Deus estaria o Papa, os Reis, Bispos, e assim por diante.
O Papa ungia os reis, que deveriam ser respeitados e não questionados porque falavam e agiam em nome de "Deus". Os europeus que chegaram na América destruíram, em nome de "Deus", as religiões dos povos que aqui viviam. Questionar e não se batizar significava morrer e ser perseguido.
Enfim, chegando ao ano de 2022, essa estrutura mental (crença), que associa "Deus" à ideia do bem absoluto, construída há mais de dois mil anos, ainda é usada por políticos que querem se valer dessa crença para associarem seu nome a esse "Deus".
Lideranças religiosas atualmente fazem esse papel de manter viva essa estrutura mental, proveniente da Grécia antiga, contribuindo para que políticos sejam beneficiados e depois retribuam esse favor durante seu governo. Você deve ter visto o escândalo do Ministério da Educação. Confira na matéria publicada no Portal G1 em 05/4/2022, intitulada: "Prefeitos reiteram que pastor pedia propina em dinheiro e até em ouro para obter verba no MEC".
O Livro intitulado: "A religião do bolsonarismo", escrito por Yago Martins, publicado pela Editora Episteme, em 2021, relata com detalhes, como essa tradição cristã da unção de reis foi readaptada por lideranças religiosas em relação a Jair Bolsonaro, o qual recebeu diversas unções por parte de bispos neopentecostais.
Em síntese, até hoje, políticos tentam instrumentalizar a seu favor, a fé das pessoas num "Deus" bom e poderoso. E assim com a Bíblia na sua mão se dizem o candidato do bem contra o mal. E assim milhares de pessoas embarcam nessa associação alienante e perigosa à democracia!

Prof. Evandro Ricardo Guindani
Universidade Federal do Pampa - Unipampa
São Borja-RS







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