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Colunista

A fé religiosa pode fazer mal Por: Prof. Evandro Ricardo Guindani

Prof. Evandro Ricardo Guindani Universidade Federal do Pampa - Unipampa

Fé significa ter confiança em algo, dar crédito a alguém. Quando você afirma: “tenho fé que você vai conseguir”, você está apostando em algo que ainda não existe, mas que você acredita que pode se realizar. A fé pressupõe a inexistência, a dúvida, a incerteza. Diante desses três elementos que de certa forma lhe dão insegurança, você se apoia na fé para lhe oferecer uma “aparente” tranquilidade de que tudo vai dar certo.

A dúvida, a incerteza sobre o futuro, a instabilidade, são elementos próprios da condição humana, revelam a nossa limitação e até mesmo impotência diante da realidade, diante da incapacidade de controle sobre as coisas.

A fé tenta maquiar essa condição humana.  Por meio da fé religiosa as pessoas buscam uma força superior (deuses, divindades...) que venha lhe dar uma espécie de um super poder. A fé religiosa busca transformar elementos da condição humana como dúvida e insegurança em certeza e segurança. Ela apenas fornece a ilusão e um conforto emocional, pois racionalmente o indivíduo sabe que continua sendo humano.

A função do culto religioso, por meio da música e rituais, é justamente ativar a dimensão emocional da confiança nessa força, para enfraquecer a dimensão racional que vai te colocar com os pés no chão e reforçar sua condição humana da incerteza e dúvida.

Cada religião se utiliza de uma teologia, que é um discurso sobre essa força superior, por muitos, chamada de “deus”. Quanto mais elaborado e convincente for esse discurso, maior é a aposta do indivíduo nessa divindade. Por isso, cada vez mais, pregadores se especializam na arte da sedução emocional, bem como no combate à ciência, ao pensamento crítico.

Um elemento indispensável à fé religiosa é a confiança. A fé se torna mais intensa quanto maior for a confiança na instituição e liderança religiosa, quanto maior for a entrega emocional. Quanto mais a pessoa confiar na veracidade daquele que prega e de sua teologia, mais forte será a atitude de fé. É essa entrega que move muitas pessoas a entregarem o pouco dinheiro que possuem a uma instituição religiosa. Muitas igrejas chegam a cometer extorsão, oferecendo vantagens imaginárias por meio da “oferta”.  

A confiança e a emoção se unem numa tarefa de fortalecer a fé em “verdades” construídas e repassadas por meio da tradição teológica de cada religião. Há um processo de desconexão da racionalidade a tal ponto que a fé pode até mesmo levar ao suicídio ou prática de violência em nome dessas “verdades”. Por isso, a fé religiosa pode fazer mais mal do que bem.

De acordo com o último censo do IBGE, divulgado neste ano, o Brasil possui mais templos religiosos do que hospitais e escolas. Em matéria publicada em 02/02/2024, pelo Portal Exame, “são 580 mil locais de devoção a diferentes tipos de religião ante 264 mil instituições de ensino e 264 mil unidades de saúde, que juntos totalizam 512 estabelecimentos. ”

É um dado preocupante, porque o crescimento das igrejas também representa uma maior adesão às crenças do que à racionalidade, a ciência. Paralelo a isso, cresce o negacionismo, o fanatismo moral e político de extrema direita, a rejeição às vacinas.... Por isso, ao contrário do que muitos acreditam, a fé religiosa nem sempre representa algo positivo para a humanidade.

Prof. Evandro R Guindani

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